10 de abril de 2010

As asas de gigante impedem-no de andar


O ALBATROZ  
Por mera brincadeira, os homens de equipagem  
Caçam enormes aves do mar, albatrozes  
Que, indolentes, costumam seguir a viagem
Do navio percorrendo abismos tenebrosos. 
  Assim que sobre aquelas tábuas são largados 
 Os reis do céu azul, envergonhados, trôpegos,
Deixam cair, humildes, as imensas asas,  
Que arrastam pelo chão, como remos já soltos. 
  Como está mole e frouxo o alado peregrino! 
 Ele, que tão belo foi, ei-lo cómico e feio!
Um espicaça-lhe o bico, usando o seu cachimbo,
E um outro, coxeando, imita o pobre enfermo!
O poeta é igual ao príncipe das nuvens  
Que se ri do arqueiro e afronta a tempestade;
Exilado na terra e no meio dos apupos, 
 As asas de gigante impedem-no de andar.

in As Flores do Mal, BAUDELAIRE, Charles

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