30 de maio de 2010

Jean Baptiste Debret




Jovens Negras Indo à Igreja para Serem Batizadas , 1821
aquarela sobre papel, c.i.e. 18,3 x 23,5 cm Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ) Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz



Jean Baptiste Debret estuda na Academia de Belas Artes, de Paris, entre 1785 e 1789. Aluno do pintor francês Jacques-Louis David (1748 - 1825), forma-se, portanto, dentro dos ideais neoclássicos. Pintor de história, trabalha com arquitetos conceituados na ornamentação de edifícios públicos e particulares. Em torno de 1806 é pintor na corte de Napoleão.
Integra a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816, cujo primeiro objetivo é promover o ensino artístico no país. Em seu ateliê leciona pintura e tem como alunos, entre outros, Porto Alegre (1806 - 1879), August Müller (1815 - ca.1883) e Simplício de Sá (1785 - 1839). Realiza em 1818, com o arquiteto Grandjean de Montigny (1776 - 1850) a ornamentação das ruas da cidade do Rio de Janeiro, para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826). Na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, a partir de 1826, ensina pintura histórica. Paralelamente, visita várias cidades do país, representando suas paisagens e costumes. Organiza, em 1829, a Exposição da Classe de Pintura de História da Academia, importante por ser a primeira mostra pública de arte no Brasil, dando origem às Exposições Gerais, com prêmios oficiais.
Trabalha como pintor da corte, representa acontecimentos ilustres e cenas oficiais; revela-se um desenhista atento às questões sociais brasileiras. Identifica-se com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. A maioria de suas telas parece ser destinada à gravura; Debret e a corte têm consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do Estado. Segundo o historiador Luciano Migliaccio, por esse motivo a pintura de Debret é, em parte, descrição atenta do cerimonial da corte, em formato modesto e apropriado para fácil compreensão, como ocorre, por exemplo, com os quadros Aclamação de Dom João VI (ca.1822) e Chegada da Imperatriz Leopoldina (1818). No quadro Coroação de Dom Pedro I (1822), que tem por modelo a pintura de David, o artista confere à obra um caráter cívico e preocupa-se com a necessidade de criação de um imaginário político.

Debret retorna à França em 1831. Parte das aquarelas feitas no Brasil, litografadas, ilustra a obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, publicada entre 1834 e 1839. O livro, em três volumes, trata das florestas e dos selvagens, das atividades agrárias, do trabalho escravo e também dos acontecimentos políticos e culturais. Destaca-se a preocupação documental do artista, que representa cenas típicas de atividades e costumes do Rio de Janeiro, procurando traçar um painel social da cidade. Apresenta muitos aspectos relacionados ao trabalho escravo, ora acentuando o lado mais expansivo das relações sociais, ora expondo serviços extenuantes, como os de carregadores e trabalhadores das moendas. Mostra o trabalho dos negros de ganho que percorrem as ruas da cidade, prestando vários tipos de serviços.
O historiador Rodrigo Naves aponta a dificuldade do artista em transpor as idéias neoclássicas para o Brasil, por fatores como o caráter da monarquia instaurada e a questão da escravidão no país. Para o autor, os desenhos realizados para a Viagem Pitoresca revelam o esforço do artista para lidar com o dilema criado pelo conflito entre sua formação neoclássica e a realidade brasileira. 
Nas aquarelas, feitas com agilidade, o artista parece sentir-se mais à vontade e revela seu domínio técnico: elas apresentam um colorido espontâneo, leve e harmonioso. Segundo Rodrigo Naves, em algumas aquarelas, a forma de representação dos trabalhadores faz com que seus corpos tenham um aspecto vulnerável. Também nas vestimentas ocorre forte ambigüidade: sobrepostas, soltas, meio esgarçadas e rudes, as roupas dos negros não mantêm vínculos com a tradição dos panejamentos. Na representação dos personagens de Debret, os tecidos transmitem aos corpos sua falta de consistência.
Nas gravuras, as situações dúbias da sociedade revelam-se pela aproximação entre as figuras e seu ambiente, os contornos são pouco marcados, um meio cinzento aproxima corpos e espaço, como ocorre em Lavadeiras a Beira-Rio (Viagem Pitoresca). Nas litografias, a sutileza do cinza cria uma espécie de liga que unifica as cenas. Nas ilustrações da Viagem Pitoresca, por meio da fragilidade das formas e da pressão que os personagens sofrem do espaço, o artista expressa a ambigüidade da sociedade brasileira. Após o retorno a Paris, o artista retoma o contato com companheiros neoclássicos, volta ao linearismo, às formas incisivas e à gestualidade acentuada.

Obras

Casario , 1816 - 1831
aquarela sobre papel, c.i.d.
12,4 x 20,1 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz 



Família de um Chefe Camacã, Preparando-se para Festa , 1820 - 1830
Bico-de-pena e lápis sobre papel
22,5 x 35,4 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz 





Engenho Manual que Faz Caldo de Cana , 1822
aquarela sobre papel, c.i.e.
17,6 x 24,5 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz



 Botica , 1823
aquarela sobre papel, c.i.e.
15,2 x 21,2 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC 


 Tropeiros Pobres de São Paulo , 1823
aquarela sobre papel, c.i.d.
15,2 x 22,3 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini 

Tribo Guaicuru em Busca de Novas Pastagens , 1823
aquarela sobre papel, c.i.e.
15,7 x 21,8 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz 
 
Uma Senhora Brasileira em seu Lar , ca. 1823
litografia aquarelada à mão
16 x 22 cm
Acervo Banco Itaú S.A. (São Paulo, SP)
Reprodução fotográfica autoria desconhecida


Calceteiros , 1824
aquarela sobre papel, c.i.e.
17,1 x 21,1 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ) 



Café Torrado , 1826
aquarela sobre papel, c.i.d.
15,4 x 19,6 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro)
Reprodução Fotográfica Pedro Oswaldo Cruz 




O Velho Orfeu Africano. Oricongo , 1826
aquarela sobre papel, c.i.e.
15,6 x 21,5 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz 



 Ponte de Santa Ifigênia , 1827
aquarela sobre papel, c.i.d. 14,5 x 20,6 cm Coleção Particular Reprodução fotográfica Romulo Fialdini  

 

Palácio do Governo em São Paulo , 1827
aquarela sobre papel, c.i.d.
11 x 21 cm
Coleção Particular
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini




Acervos

Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC - Rio de Janeiro RJ  

Histórico

Nascimento/Morte
1768 - Paris (França) - 18 de abril
1848 - Paris (França) - 11 de junho

Vida Familiar
Filho de Jacques Debret, escrivão do Parlamento de Paris (afeito à história natural e às artes)
Sobrinho-neto do pintor e gravador rococó François Boucher (1703 - 1770)
Primo de Jacques-Louis David (1748 - 1825), chefe de escola neoclássica francesa
Irmão do arquiteto e membro do Instituto de França, François Debret (1777 - 1850), autor do projeto para as fundações do Palais de l'Ecole des Beaux-Arts

Formação
1785/1789 - Paris (França) - É aluno de Jacques-Louis David na Academia de Belas Artes. Freqüenta a escola até a Revolução Francesa
ca.1791 - Paris (França) - Estuda fortificações por determinação governamental, com outros alunos da Escola de Belas Artes, na Escola Politécnica
1807/1809 - Roma (Itália) - Recebe bolsa de estudo

Cronologia
Pintor, desenhista, gravador, professor, decorador, cenógrafo

1784/1785 - Roma (Itália) - Acompanha Jacques-Louis David, que viaja a fim de executar o quadro Juramento dos Horácios
1791 - Paris (França) - Recebe o 2º prêmio de pintura do Prix de Rome, no curso da Academia de Belas Artes
1792 - Paris (França) - É professor de desenho na Escola Politécnica
1798 - Paris (França) - Colabora com os arquitetos Percier e Fontaine na decoração de edifícios e residências particulares
ca.1806 - Paris (França) - Faz parte do séquito de pintores de Napoleão
ca.1815 - Paris (França) - O único filho de Debret morre, motivo pelo qual abandona seu país para aventurar-se no Brasil
1816/1831 - Rio de Janeiro RJ - Vem ao Brasil integrando a Missão Artística Francesa
ca.1817 - Rio de Janeiro RJ - É professor de pintura em seu ateliê
1818 - Rio de Janeiro RJ - Faz a decoração e o serviço de ornamentação pública para festa de coroação de D. João VI (1767 - 1826)
1822 - Rio de Janeiro RJ - Como pintor oficial do governo, Debret é o autor do desenho da bandeira do Brasil Império
1823/1831 - Rio de Janeiro RJ - É professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba
ca.1823/1831 - Brasil - Retrata a natureza e os tipos humanos de diversos Estados, como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
ca.1825 - Rio de Janeiro RJ - Realiza gravuras a água-forte, que estão na Seção de Estampas da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
ca.1825/ca.1831 - Rio de Janeiro RJ - Realiza grande número de aquarelas que têm a importância documental dos aspectos da vida no Brasil no século XIX, recebe colaboração da Viscondessa de Portes 
1829 - Rio de Janeiro RJ - Organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira exposição pública de arte no Brasil
1831/1848 - Paris (França) - Retorna a Paris
1834/1839 - Paris (França) - Edita o livro Voyage pittoresque et historique au Brésil [Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil], contendo aquarelas e gravuras, em três volumes, publicado pela casa Firmin Didot 
1839 - Rio de Janeiro RJ - Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
1940 - São Paulo SP - É publicada a primeira edição brasileira do livro Voyage pittoresque et historique au Brésil [Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil], pela Livraria Martins 
1954 - Paris (França) - Raimundo Otonni de Castro Maya edita 100 aquarelas e desenhos de Debret: Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil
1978 - Paris (França) - É fundada a Galeria Debret no Centro Cultural do Brasil em Paris.

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