16 de março de 2010

História das Jóias


O homem sempre sentiu a necessidade de se adornar. Os primeiros adornos eram feitos com ossos e dentes de animais, conchas, pedras e madeira e simbolizavam o status, o poder ou misticismos.
O ouro é explorado pelo homem há mais de 6.000 anos. Acompanha a evolução humana, assim como as artes, contando a história através de belas jóias.
Em cada período histórico, as características das jóias e das artes se transformaram. Vamos conhecer um pouco sobre essa história através da joalheria.

Pré-história: Eram utilizados materiais como pedras, ossos, sementes e dentes de animais, lapidados de forma rústica.

Egípicios: As jóias deste período eram carregadas de misticismo e simbolismos. Figurativas, essas peças tinham formas de escaravelhos, que representavam o sol e a criação; olho do deus Horus, que protegia contra maus espíritos ou até mesmo de serpentes e escorpiões. Utilizavam muitas cores, que também eram carregadas de simbolismos. A policromia era obtida através de gemas como o lápis-lazúli, feldispato verde e  turquesa ou até mesmo esmalte vitrificado.

Gregos: A princípio os gregos utilizavam formas geométricas. Com influência de outros povos passaram a produzir cenas mitológicas em brincos, braceletes e colares.

Etruscos: As técnicas de filigrana e granulação foram utilizadas com extremo primor

Celtas: A joalheria Celta sofreu grande influência de povos estrangeiros. Adaptaram as técnicas de outros povos à sua arte de trabalhar o metal. Utilizaram  de forma magistral técnicas como: filigrana, gravação, intaglio, fundição, esmalte e granulação.

Romanos:  Os romanos utilizavam o ouro para financiar guerras. Somente em 27 a.C., com novas fontes do metal, é que os romanos passaram a utilizar parte deste ouro na joalheria. Lentamente, as jóias foram se tornando mais populares.

Idade Média: Na Idade Média a arte sofreu grande influência religiosa (teocentrismo). As jóias eclesiásticas ganharam força, sendo muito usados escapulários, crucifixos e relicários por ambos os sexos.
Apareceram as primeiras sociedades de ourives, os quais se instalaram em guildas (corporações de ourives).  As jóias tinham um simbolismo muito forte, não só religioso,  mas também de status e divisão de classes.  Existiam leis para o uso das jóias.
O esmalte foi uma das técnicas em destaque.
Os anéis eclesiásticos, são usados até hoje por cardeais, bispos e pelo papa. A Burguesia utilizou anéis gravados com monogramas como instrumentos de autenticação de documentos.
Os cintos e broches, além de adornar, eram funcionais. O vestuário também era ricamente adornado.  Fios de ouro e gemas eram aplicados às bordas dos tecidos.
As gemas tiveram um papel de destaque. Em uma técnica para realçar sua cor, algumas delas recebiam uma fina camada de metal. Foram criadas leis restringindo o uso desta técnica em conseqüência de seu uso indiscriminado.
As pérolas, rubis, safiras, esmeraldas e granadas foram as gemas mais utilizadas. Além do formato cabochão, pedras com facetas começam a surgir. É o período onde a lapidação começou a se desenvolver.

Joalheria Bizantina: Caracterizou-se pelo uso de gemas, pela policromia e trabalhos delicados de filigrana e granulação, expressando a fusão das culturas orientais e ocidentais. Nesse período, o tema principal era o religioso
As principais gemas utilizadas foram as pérolas e safiras.
O esmalte decorava peças ricas em detalhes na representação de santos, retratos e desenhos abstratos
A lapidação era muito primária. Utilizava-se apenas arredondar as arestas, lapidar em forma de contas e polir as facetas naturais da gemas

Estilo gótico: A arquitetura gótica com seu verticalismo influenciou a joalheria de maneira gradual. A arte gótica surge em um momento de crescimento das cidades medievais. O estilo arquitetônico gótico já estava emergindo por volta de 1150, mas somente no final do século XIII é notado seu reflexo na joalheria. Surgem novas formas, mais angulares e pontudas que resultam em formas elegantes. A arquitetura retrata a crença na existência de um Deus que vive em um plano acima da humanidade, e isso explica o verticalismo, onde tudo aponta para o céu. Sua maior representação esta nas catedrais.

Renascimento: Com os estudos de anatomia e engenharia que ganharam força nesta época, os ourives conseguiram reproduzir com fidelidade, formas humanas representadas em peças inspiradas na mitologia.
A joalheria deixou de ser patrocinada pelo clero e passou a ser patrocinada pela burguesia. Foi então que o ofício de ourives começou a ganhar status de arte assim como a pintura e escultura.
Com as navegações e a descoberta das Américas, a Europa foi abastecida de ouro, prata e gemas
Era costume usar vários anéis na mesma mão, assim como muitos colares. Também era comum o uso de pingentes, brincos, broches e jóias para o cabelo e chapéu.  Os adornos de chapéus eram feitos de ouro esmaltado, com motivos mitológicos ou religiosos. Camafeus também começaram a ser introduzidos na composição destes adornos.

Estilo Barroco: Nas jóias barrocas o que predomina é a emoção que vem contrapor com o racionalismo do renascimento.
A França dita a moda. A jóias passam a ser usadas com mais moderação e ficam mais elegantes. Temas religiosos perdem espaço para os temas naturalistas como pássaros e flores.
Houve um grande avanço na lapidação. Os desenhos de peças para o dia eram diferentes dos para serem utilizados à noite, já que estas deveriam refletir com mais intensidade a luz dos candelabros.
As jóias são usadas como ostentação de poder e riqueza
O diamante foi a gema preferida, mas  rubis, esmeraldas e safiras também foram muito utilizados.

Rococó: O barroco se transforma em exuberância. Assimétricas, as jóias deste período são sedutoras. Utilizava-se muitas gemas coloridas e diamantes. As técnicas de lapidação foram aprimoradas. As peças tinham muito brilho e eram mais luxuosas. Surgem os conjuntos de jóias, peças feitas com a mesma linguagem formal e mesmos materiais
Brincos, anéis, pendentes em formatos de buquês e laços são jóias muito utilizadas.

Neoclássico: Com a revolução francesa, a referência volta a ser os estilos grego e romano, limpando a jóia dos excessos dos estilos anteriores. Camafeus, medalhões e correntes voltam a ser utilizados.
As gemas, usadas com moderação, eram enfatizadas através de uma moldura de diamantes, ouro ou pérolas que rodeavam a gema principal. Tiaras, anéis e braceletes fazem parte dos adornos usados.

Art Nouveau: A inspiração deste estilo era a Natureza.  Suas jóias eram a mais bela representação das linhas orgânicas. Utilizavam materiais como marfim, chifres, vidros entre outros.

Belle Époque: A jóia neste período era usada com o intuito de adornar as mulheres e satisfazer sua vaidade

Art Decó: O Cubismo e o Abstracionismo, assim como as linhas da  Bauhaus, tiveram forte influência neste período. Geométricos, os colares e longos brincos também eram produzidos em materiais alternativos (não preciosos), como o aço.

Segunda Guerra: Após a Segunda Guerra, a Europa deixa de ditar moda e adota o estilo de vida americano. O cinema é um grande meio de difusão deste estilo. O glamour de Hollywood começa a imperar.
Com a guerra ouve uma queda de fornecimento de gemas. Abriu-se, então, um grande espaço para as bijuterias finas

Anos 60 e 70: A forma era mais valorizada que o material e novos conceitos passam a ser empregados, utilizando plástico e até mesmo papel. O design passa a ser valorizado pelo conceito.

..................................



Fenícios - os grandes navegadores

Povo nômade que se estabeleceu na região do atual Líbano, os fenícios eram comerciantes e grandes navegadores, o que ajudou a difundir diferentes culturas entre os povos com os quais estabelecia comércio. Sua posição geográfica foi de grande valia, já que encontrava-se no cruzamento das principais rotas comerciais entre o mediterrâneo do ocidente e o do oriente.




Graças às suas habilidades náuticas, reinaram no Mar Mediterrâneo. Levavam de cada povo não apenas riquezas materiais, mas riquezas culturais. Assim, suas produções artísticas, bem como a ourivesaria, agregaram diversas técnicas. Através do comércio, sua arte se expandiu, influenciou e foi influenciada por terras distantes como a grega e a etrusca , chegando até o Norte da África.

Em suas jóias são observados elementos de diversas culturas. Os fenícios não só agregavam elementos em sua arte, mas os assimilavam na íntegra, reproduzindo-os impecavelmente.
Destacaram-se não apenas na arte da joalheria. Trabalharam com maestria o vidro, a madeira, a tecelagem, técnicas de tinturaria, cerâmica e metalurgia.
A madeira, especificamente o Cedro, foi uma das grandes riquezas deste povo, o que facilitou a construção das embarcações e a conseqüente ampliação de seus horizontes.
Um exemplo desta troca de conhecimentos técnicos entre os povos é o uso da granulação na joalheria. Esta técnica de decoração de superfícies com grãos adicionados por fusão foi difundida e usada pelos fenícios. Levaram o conhecimento Egeu até os Etruscos.
Atrás de âmbar foram até ao Mar Báltico e ajudaram a difundir a lapidação de gemas.
A joalheria fenícia não se destaca pela originalidade, mas pela união de culturas e técnicas de diversos povos que foram disseminadas graças ao comércio e a navegação. Estas, talvez tenham sido as principais artes e características deste povo que foi dissolvido com a ocupação dos macedônios de Alexandre, o Grande.


Egito

A arte do antigo Egito é repleta de símbolos e significados.
Para compreendermos melhor sua arte e suas jóias é necessário entender um pouco de sua história e religião.
O território do Egito Antigo se estendia às margens do rio Nilo, onde as terras de solo escuro, propícias para cultivo, eram chamadas de kemet (terras negras) e onde vivia a maior parte da população.  O restante do território era inóspito, chamado pelos egípcios de deshret (terras vermelhas). A maior parte da população vivia nas margens do rio.
Além de terras férteis, o Egito possuía um solo rico em minério. Ouro, cobre e algumas gemas eram retiradas do próprio território.
Civilização rica e poderosa, durou mais de 3 mil anos e era governada por faraós, homens que ao mesmo tempo eram considerados reis e deuses.
Informações desta cultura sobreviveram até os dias atuais através das pinturas de paredes, escrita e tesouros encontrados nas tumbas. As pinturas das paredes eram ricas em detalhes de vestuário, armas, rotina de agricultores e servos, entre outros. As pinturas contam a história do Egito com ricos detalhes inclusive de seus adornos e jóias. A escrita egípcia, sistema de símbolos pictóricos conhecido como hieróglifos, também ajuda a desvendar mistérios deste período. Os tesouros encontrados nas tumbas são ricos em objetos do cotidiano, jóias e objetos extraordinários.

 pintura em parede

Politeístas, os egípcios adoravam inúmeros deuses. Um dos principais deuses era Rá, deus do Sol, que podia assumir diferentes formas e diversos nomes. Também relacionado com Amon-Rá, era o rei dos deuses. Amon significa “secreto”. A ele é atribuído o ouro.
Osíris representa o renascimento tanto da terra após as cheias do Nilo, como a do corpo na vida após a morte. Assassinado pelo próprio irmão, foi trazido de volta a vida por sua esposa Ísis e se tornou o deus do além.
Muitos deuses possuíam cabeça de animais. Ísis é a deusa-mãe, poderosa e protetora. Em sua busca ao corpo do marido surgiu como um pássaro, pipa, por isso muitas vezes é representada com asas. Acompanhava Osíris e Néftis, irmã de Osíris no julgamento dos mortos.
Anúbis, Deus com cabeça de chacal, levava o morto ao tribunal de Osíris. Deus do embalsamento e guardião dos mortos.
Hórus, o deus da realeza, com cabeça de falcão, leva os mortos que passaram pela balança da pena da verdade, à presença de Osíris.
A intenção deste julgamento era “transformar o morto em um Osíris (“imortais”), para viver para sempre no pós-morte.
Acreditavam também que alguns símbolos poderiam trazer boa sorte e proteção. Alguns eram relacionados a certos deuses e podiam invocar seus poderes. Estes símbolos eram muitas vezes representados em jóias para adornar e proteger quem as usasse.

 peitoral de Tutankamon
 Máscara Tutankamon (18° dinastia)

Pilar, djed, representa estabilidade e a possibilidade de renascimento no pós morte.
Olho, wedjat, representa o olho de Hórus, o qual ele perdera em uma luta contra o mal e que recuperara com a ajuda de poderes mágicos. O olho era usado para proteger as múmias e afastar o mal.
O cinto de Ísis, tyet, invocava o poder protetor da deusa.
Falar da joalheria Egípcia é falar de símbolos e significados, de amuletos e magia. Por isso não podemos deixar de falar nesses deuses e suas representações.
Para eles, cada ser humano possuía vários espíritos que precisavam de um corpo para habitar no pós-morte. Embalsamavam os corpos dos mortos para sua preservação e habitat dos espíritos na vida pós-morte. Os órgãos eram retirados. Estômago, pulmões, fígado e intestino eram guardados em jarros especiais, sendo cada um protegido por um dos quatro filhos de Hórus.
O coração seria usado no tribunal de Osíris junto à balança da pena da verdade. Recebia um amuleto em forma de escaravelho para protegê-lo contra os perigos do além.

 Amuleto em forma de escaravelho

Os significados mágicos eram transmitidos não apenas pelos aspectos formais, os aspectos cromáticos também eram de suma importância. O azul escuro representava o céu da noite, o verde o renascimento, enquanto o vermelho o sangue e a vida. Para tal representação utilizavam gemas como o lápis-lazúli , trazido da região do Afeganistão, feldspato verde e turquesa . Além das gemas, outra forma encontrada para introduzir cores às jóias foi a descoberta de um esmalte vitrificado que podia chegar ao tom próximo do azul sagrado.
Às gemas também eram atribuídos poderes curativos. A ágata , por exemplo, protegia contra picada de aranha. O lápis-lazúli contra ataque de cobra.
A joalheria Egípcia foi mais que decorativa, era mágica, com um cunho religioso, um amuleto, uma forma de pedir proteção a todos os deuses. Seus significados eram lidos pelos símbolos e cores utilizadas em cada peça. Muitas das peças usadas durante a vida eram levadas junto com seu dono ao túmulo como forma de auxiliar e proteger no caminho da passagem para a vida do pós-morte.


Os Celtas
Os celtas foram tribos seminômades, multi-culturais e politeístas de mesma origem, que tiveram seus primórdios na região compreendida pelo sudoeste da Alemanha, Suíça e Áustria, durante a Idade do Bronze. Este período inicial é conhecido pelo nome de Cultura Hallstatt (1.200 - 500 AC), graças ao sítio arqueológico de mesmo nome, perto da cidade austríaca de Salzburg. Encontrado em 1846 pelo arqueólogo Johann Georg Ramsauer, contém aproximadamente 1.100 tumbas, dentro das quais objetos variados de cerâmica, adagas e elaborada joalheria feita em bronze e ouro, como colares e broches estavam junto a restos mortais.
O comércio e o movimento populacional espalharam a Cultura Hallstatt para a França, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Península Ibérica, ilhas britânicas e Irlanda. Comerciavam com os gregos seda, âmbar, prata, ferro, marfim e vinho.


A partir do século VI da nossa era, os broches, uma das mais importantes peças da joalheria medieval, passaram a ser mais luxuosos, decorados de forma a declarar o nível social de quem o portava. O Broche Roscrea, encontrado no Condado de Tipperary, é um belo exemplo de como os joalheiros celtas adaptaram técnicas estrangeiras ao seu trabalho.

Durante o período conhecido como Cultura La Tène (450 AC – I DC), nome do sítio arqueológico encontrado ao norte do lago suíço Neuchâtel, em 1857, pelo arqueólogo amador Hansli Kopp, a maior parte da Europa estava sob a sombra da cultura celta. Os celtas deste período foram para a Espanha em 450 AC e para a Itália em 400 AC, invadiram Roma no ano 390 AC, a Grécia em 279 AC e a Turquia em 270 AC. Em torno de 200 AC, habitavam regiões da Europa que hoje são a Bretanha (França), as ilhas britânicas, a Holanda, a Bélgica, a Alemanha, a Áustria e a Suíça. A cultura La Tène aparenta ter sido mais bélica do que a anterior. Em todas as tumbas deste período espalhadas pela Europa, foram encontradas armas de ferro, como espadas e lanças, e escudos feitos de pesada madeira maciça.


O grande diferencial entre os dois períodos, Hallstatt e La Tène, é o sofisticado trabalho em metal do segundo período. Nas tumbas, as quais para os mortos de maior posição social eram feitas em madeira, foram encontrados diversos objetos funerários, moedas de prata, armas, ferramentas, itens de uso diário e jóias: fivelas para cintos, fibulae, broches, braceletes, colares e torcs. A maioria dos objetos e todas as jóias têm um estilo típico, caracterizado por formas em S, espirais e padrões circulares simetricamente aplicados a cada elemento decorativo.

Os celtas utilizavam na confecção de suas jóias, além do bronze, da prata e do ouro, contas de âmbar, jet, vidro e gemas. As técnicas decorativas eram o repoussé, a gravação no metal e a esmaltação champlevé.
No início do período medieval, também conhecido como Idade das Trevas, os celtas encontraram-se frente a frente com duas culturas mais poderosas, os romanos ao sul e as tribos germânicas, ao norte. Os celtas sobreviveram, sem interferência, ainda por muitos séculos, na Irlanda. Os romanos achavam que a ilha possuía um clima inóspito (chuvas, ventos cortantes e baixas temperaturas) e não se interessaram então em conquistá-la.



Os Romanos

Os famosos retratos da múmia egípcio-romana (datados em torno de 300 aC), mostram o gosto romano por jóias de uma forma bem realista.


Outra interessante fonte arqueológica encontra-se nas esculturas funerárias de Palmira, no noroeste do deserto sírio, outrora chamada de Roma do Leste, e governada pela legendária rainha Zenóbia, que manteve este pequeno estado árabe independente, até ser conquistado pelos romanos e sua rainha enviada para Roma acorrentada. O que hoje é considerada a joalheria clássica dos antigos romanos também pode ser vista nas jóias encontradas em Pompéia e Herculano.A joalheria clássica romana era naturalista e figurativa, ora confeccionada em linhas planas e simples, era em elaborados motivos florais. Em geral, os artesãos e ourives romanos não eram tão sofisticados ou ambiciosos quanto seus colegas gregos: a joalheria helênica é , de longe, bem mais elaborada, detalhada e decorada. Ainda assim, evidências de jóias requintadas sobreviveram. As esmeraldas eram as gemas favoritas: podiam ser usadas na forma de cristais, junto a pérolas – outra gema extremamente apreciada- ou lapidadas e usadas para decorar colares mais elaborados, à imitação dos gregos. Safiras, águas-marinhas, topázios e diamantes brutos também eram muito utilizados na joalheria romana. 


peças em ouro séc. II-IIIac

O design romano utilizava granulação e filigrana, e o uso de esmaltes não era tão comum. Raramente somente um elemento de estilo existia na decoração de uma jóia – por exemplo, as superfícies em forma de domos, características do Período Etrusco e encontradas em brincos e braceletes, conviviam perfeitamente com influências helênicas como a policromia – técnica que consistia em folhear uma superfície de madeira com folhas de ouro , às quais eram depois aplicados esmaltes (e que persistiu até meados de 400 dC, já em pleno Império Bizantino). A bulla persistiu até o primeiro século da nossa era e a roda, símbolo que se acreditava deter poderes mágicos, tornou-se um motivo recorrente nas jóias romanas. Dos gregos emergiu também a fibulae – uma espécie de alfinete para prender roupas e que se tornou bastante popular entre os romanos, da Síria veio o design do crescente invertido com esferas em ambos os lados, e que representava o deus condutor de carruagens Baal Rekub. Da Ásia Ocidental veio a influência, já no primeiro século depois de Cristo, da barra horizontal da qual pendiam dois ou três pendentes verticais. No ano 200 dC aparece o opus interrasile, técnica de perfurar sólidas folhas de metal para criar um trabalho decorativo e que mudou a face das jóias do Período Imperial. Uma influência do comércio existente durante o período da Roma Imperial foi a predileção por jóias onde várias gemas coloridas decoravam uma mesma peça – os romanos amavam os rubis, as ágatas, as granadas, os lápis- lazulis, os corais rosas e vermelhos encontrados no mar Mediterrâneo e o âmbar, encontrados nas águas frias dos mares do Norte e Báltico. Intaglios eram recortados em gemas, ou as mesmas podiam ser decoradas em cabochons. Os camafeus eram adorados e as pérolas podiam ser usadas em tiaras usadas para adornar os altos penteados das ricas matronas romanas.
No segundo século dC, torna-se moda a utilização de moedas e medalhões de ouro imperiais como motivos decorativos para anéis entre os homens, o que também era uma marca de distinção militar. Quando as moedas eram utilizadas em colares, como pendentes ou em broches, significavam uma adulação por parte de quem as portava, em relação ao dono da face que se encontrava nas moedas ou medalhões. O niello, outra técnica decorativa onde eram utilizadas superfícies de ouro e prata, era popular e, a partir de 300 dC aparecem os braceletes de ouro maciço e a versão crossbow das versáteis fibulae, que eram semelhantes às atuais fivelas redondas para cintos (mas num tamanho bem maior), e ainda usadas para prender roupas, principalmente mantos.
A joalheria romana sofreu uma vasta influência, não só dos etruscos, dos gregos e dos povos pertencentes à cultura helênica, mas também das culturas micênicas, minoanas e egípcias.


Os Gregos

O início da história da joalheria grega remonta à Pré-História. Maravilhosos exemplares, de excepcional e delicada ourivesaria e contendo, os mais antigos, 5000 anos, foram encontrados em Creta e em outras ilhas do Mar Egeu. Estudos constataram que estas peças pertencem ao período da civilização Minóica e também à civilização Micênica, que a sucedeu. Ambas as civilizações constituíram as bases para o desenvolvimento da civilização Grega, nutrindo as narrativas épicas de Homero, que por sua vez alimentou grande parte da literatura e da iconografia de toda a Antiguidade: ourives criavam inspirados nas detalhadas descrições do escudo de Aquiles, do cinto de Afrodite ou das maçanetas douradas do palácio de Tróia.
Depois da extinção do mundo micênico ocorreu o chamado Período Negro (1100-800 a C). A joalheria deste período refletiu pouco a imaginativa riqueza dos períodos anteriores, apesar de que a chama da tradição da confecção de jóias continuasse acesa, para brilhar novamente a partir do ano 800 a C, quando novas peças confeccionadas em refinada técnica e delicado artesanato apareceram nas ilhas eginas.
Apesar da Grécia durante o período Arcaico (600- 475 a C), ter sofrido grandemente durante as Guerras Persas, por sorte tiveram pouco efeito sobre o alto nível da cultura helênica. As artes continuaram com crescente vigor nas cidades gregas às margens do Ponto Euxino (Mar Negro), no sudeste da Itália e na Sicília, e até na Península Ibérica. No Período Clássico, também conhecido como Idade de Ouro, a quantidade de jóias confeccionadas foi menor do que nos períodos anteriores, mas foi tão soberba na qualidade e na perfeição técnica que a arte da ourivesaria elevou-se ao patamar da escultura em miniatura.
A opulência da arte da ourivesaria, no entanto, verificou-se após as conquistas de Alexandre, o Grande, quando o ouro e as gemas eram encontrados em abundância. As jóias gregas passaram então não somente a serem enriquecidas com designs de influências orientais, mas também embelezadas com gemas raras. A utilização de gemas de cores variadas nas mesmas jóias passou a ser largamente utilizada.
Durante o período de domínio romano, o design foi negligenciado em função de um maior embelezamento das jóias por gemas. A variedade, o luxo e a magnificência da joalheria grega alcançaram o seu clímax durante o Império Bizantino, entre os séculos X e XI da nossa era. O modo de vida luxuoso da corte bizantina, admirado e copiado por príncipes do Ocidente e do Oriente, era refletido em jóias fantásticas, em termos de design, técnicas de fabricação e elementos decorativos. A profissão de argyroprates (joalheiro), era considerada uma das mais nobres da era bizantina, sendo regulamentada por leis especiais. Alguns exemplares da joalheria bizantina, como adornos pessoais e jóias sacras podem ser encontrados em coleções particulares e em grandes museus, mas sem dúvida que uma parte significante deste tesouro foi perdida para sempre.
A Queda de Constantinopla em 1453 marca o fim do Império Bizantino e o começo da dominação turca otomana, que subjugou a Grécia por 400 anos. Durante este período, ourives trabalharam sob duras condições e restrições, para ver sua arte florescer somente nos séculos XVII e XVIII. Centros de ourivesaria foram estabelecidos em diversas partes da Grécia e, por conta da dificuldade em se adquirir ouro, o bronze e a prata passaram a ser utilizados na confecção de jóias e ornamentos. As fontes de inspiração eram as antigas artes gregas, símbolos bizantinos como a águia com duas cabeças e a arquitetura e a natureza.

No século XIX acontece a Guerra pela Independência e a conseqüente criação do Estado Moderno Grego. Com a volta da prosperidade à sociedade e a admiração dos gregos pela cultura européia, nas artes gregas em geral e na arte da ourivesaria em particular, aconteceu uma "europeização" da cultura grega, que só diminuiu na primeira metade do século XX com a volta da apreciação, não somente da antiga civilização grega, mas também da nova tendência nas artes grega, chamada de neo-helênica. A partir de 1950, graças ao talento de ourives, joalheiros e traders, a joalheria grega tem conseguido uma posição de destaque no comércio internacional joalheiro, graças à riqueza das suas fontes de inspiração, aplicadas a novas e antigas técnicas de ourivesaria, que possibilitam a criação de uma joalheria contemporânea.



Idade Média

Na Idade Média a arte sofre grande influencia religiosa. Deus é o centro do universo (teocentrismo) e a Igreja, como representante de Deus na Terra, possuía poderes ilimitados. Esta influencia marcante na vida da sociedade, também influenciou a joalheria. As jóias eclesiásticas ganharam força e escapulários, crucifixos e relicários passaram a ser muito usados por ambos os sexos.

Jóias com imagens de símbolos cristãos

Com o início de uma economia baseada no comércio, acontece uma grande migração do campo para a cidade e surge uma nova classe social: a burguesia urbana, fruto de uma economia que prosperava no surgimento de um novo mundo cosmopolita. Durante o Medievo, apareceram as primeiras sociedades de ourives, os quais se instalaram em guildas (corporações de ourives).  Paris, Colônia e Veneza foram grandes centros da joalheria medieval. Os ourives produziam peças para a Igreja, para a nobreza e para a nova classe social (Burguesia).  Neste periodo, as jóias tinham um simbolismo muito forte, não só religioso mas também de status e divisão de classes.  Existiam leis para o uso das jóias. O clero e a nobreza tinham acesso a todos os tipos, já para a Burguesia a lei era mais severa, restringindo o uso de algumas gemas e peças a esta classe.

The Ghent Altapiece: Singing Angels 
Jan van Eyck

O esmalte foi uma das técnicas em destaque na joalheria Medieval. Usado em broches e fivelas entre outras peças.
Os anéis eclesiásticos, muito valorizados pela igreja durante este período, são usados até hoje por cardeais, bispos e pelo papa. A Burguesia utilizou-se de anéis gravados com monogramas como instrumentos de autenticação de documentos.






Os penteados tinham destaque neste período e por este motivo as jóias usadas na cabeça faziam parte da composição do vestuário. Homens e mulheres usavam vários tipos de ornamentos na cabeça. Uma opção para as mulheres era entrelaçar os cabelos com fitas bordadas com ouro e lindas gemas (tressoirs). Diademas também foram muito utilizadas. 

Jan van Eyck,
Annunciation, (detalhe),
c. 1425-30.

Os cintos, usados por ambos os sexos, faziam parte dos vestuários pois estes não possuíam bolsos. Homens e mulheres os usavam para pendurar objetos usados no cotidiano.
Os broches também possuíam outra função além do adorno. Serviam para fecharem os mantos.
O vestuário também era ricamente adornado. Fios de ouros e gemas eram aplicados às bordas dos tecidos.
As gemas tiveram um papel de destaque na joalheria medieval. Em uma técnica para realçar sua cor, algumas gemas recebiam uma fina camada de metal. Também foram criadas leis restringindo o uso desta técnica em conseqüência de seu uso indiscriminado.As pérolas, rubis, safiras, esmeraldas e granadas foram as gemas mais utilizadas. Além do formato cabochão, o mais encontrado no medievo, pedras com facetas começam a surgir. É o período onde a lapidação começa a se desenvolver.Nesta atmosfera de simbolismos e religião, não era de se espantar que as cores das gemas tivessem significados e que a algumas fossem associados poderes curativos e espirituais.


A arquitetura gótica, com seu verticalismo, influenciou a joalheria de maneira gradual. A arte gótica surge em um momento de crescimento das cidades medievais.  O estilo arquitetônico gótico já estava emergindo por volta de 1150, mas somente no final do século XIII é notado seu reflexo na joalheria. Surgem novas formas, mais angulares e pontiagudas que resultam em formas elegantes. A arquitetura retrata a crença na existência de um Deus que vive em um plano acima da humanidade, o que explica o verticalismo, tudo aponta para o céu. Sua maior representação esta nas catedrais.


Joalheria Bizantina


Um aspecto importante foi a coexistência da arte greco-romano e a oriental. Para a primeira citada acima, esse foi um dos últimos redutos durante a Idade Média, sendo redescoberta pela Europa durante o Renascimento.
Durante o Império Bizantino, as jóias eram muito valorizadas. Usadas para adornar roupas, sapatos, cabelos e diversas partes do corpo (pescoços, orelhas, cinturas, dedos e braços). Tanto homens como mulheres faziam uso de cintos, fivelas e broches adornados com filigrana e arabescos em ouro, pérolas e esmalte.




Constantinopla estava em uma posição privilegiada no mapa econômico e cultural. A joalheria nessa época utilizou gemas trazidas por mercadores de regiões como o Golfo Pérsico, Ásia, África, entre outros. As principais gemas utilizadas foram as pérolas e safiras.
A cor, que foi usada com grande destreza pelos artistas da época, também estava presente através de técnicas de esmaltação. Esta maneira de colorir as jóias, decorava peças ricas em detalhes na representação de santos, retratos e desenhos abstratos. O esmalte atingiu alto grau de refinamento técnico, sendo a técnica denominada “closoinné” muito utilizada. 
As imagens de mosaicos, como o da Igreja de São Vital em Ravena entre outras, sugerem o uso de broches, coroas, cruzes, e fivelas e das gemas acima citadas. 



A arte dos ourives também podia ser encontrada em cálices e outros objetos litúrgicos, assim como cetros e diademas. As técnicas de filigrana e granulação também foram muito empregadas para ornamentar as peças. A lapidação era muito primária. Utilizava-se apenas arredondar as arestas, lapidar em forma de contas e polir as facetas naturais da gemas. Um dos conceitos dos lapidários era o de perder o mínimo peso possível.


O Renascimento 

Com os estudos de anatomia e engenharia que ganharam força nesta época, os ourives conseguiram reproduzir com fidelidade, formas humanas representadas em peças inspiradas na mitologia.
A joalheria deixou de ser patrocinada pelo clero e passou a ser patrocinada pela burguesia. Foi então que o ofício de ourives começou a ganhar status de arte assim como a pintura e escultura.
O berço do Renascimento foi a Itália, mais precisamente Florença, cidade onde viveram os Médici, família que financiou diversos artistas do período. Durante a renascença a cidade abrigou os principais artistas desta época como: Rafael,  Donatello, Michelangelo, Leonardo da Vinci, Cellini(ourives e escultor) entre outros.
Foi em Florença que nasceu o conceito de artista que conhecemos: “um profissional remunerado pelo talento e com direitos sobre sua obra”.

O homem vitruviano de Leonardo da Vinci

Foi em Florença que nasceu o conceito de artista que conhecemos: “um profissional remunerado pelo talento e com direitos sobre sua obra”.Cellini foi um dos maiores ourives do renascimento. Nasceu em Florença e mudou-se para Roma onde produziu jóias para a corte papal e vários nobres. Estudou no atelier de Filippino Lippi onde aprendeu que o desenho tinha que ser a base de toda obra de arte, já que servia para projetar todos os detalhes da peça antes da execução.


Com as navegações e a descoberta das Américas, a Europa foi abastecida de ouro, prata e gemas. Sendo assim, a quantidade de jóias usadas jamais havia-se visto. Homens, crianças e mulheres passaram a desfilar ornamentadas com inúmeras peças.


Era costume usar vários anéis na mesma mão, assim como muitos colares. Também era comum o uso de pingentes, brincos, broches e jóias para o cabelo e chapéu.  Os adornos de chapéus eram feitos de ouro esmaltado, com motivos mitológicos ou religiosos. Camafeus também começaram a ser introduzidos na composição destes adornos. Usar correntes maciças com diferentes tipos de elos também foi um costume da época. Alguns anéis do final do séculoXVI, podiam conter compartimentos para transportar relíquias, perfumes ou até mesmo veneno.



Pérolas barrocas ganharam destaque em peças onde as pérolas eram parte do corpo da figura representada seguindo a criatividade do joalheiro.
Tamanha era a euforia deste período que até mesmo imitações de pedras eram usadas.
O Renascimento foi um período marcado pelas transformações, prosperidade e criatividade. A joalheria deste período marcada pelo exuberância, tecnologia e conceitos artísticos. 


Joalheria Barroca

Para analisarmos as características da joalheria Barroca, assim como as características dos demais períodos artísticos, primeiro temos que conhecer os principais conflitos da época em questão.
O Estilo Barroco foi marcado pelos conflitos espirituais da humanidade. Durante este período, o homem se colocava entre o paganismo e o cristianismo, assim como entre a matéria e o espírito, o antropocentrismo e o teocentrismo.
Sinônimo de algo tortuoso e de pérolas irregulares, este estilo desafiou as regras do renascimento encontrando uma nova proposta formal.O barroco transmite emoções e para isso utiliza de maneira magistral técnicas de luz e sombra, profundidade e linhas retorcidas.
É neste contexto que nasce esse novo estilo artístico.


As linhas curvas e os temas de natureza eram usados com uma nova linguagem. As inspirações vinham das flores e dos pássaros das Américas. As cores e formas apresentadas por este novo mundo eram retratadas em jóias e pinturas. Outro tema muito presente na joalheria desta época foram os laços. De formas assimétricas, eram trabalhados em ouro ou em tecidos unidos com pendentes. Eram utilizados para decorar roupas masculinas e femininas.


As jóias perdem a importância artística conquistada durante o Renascimento para se tornarem um simples símbolo de status, poder ou credo. As gemas como safiras, rubis e diamantes foram protagonistas das jóias que eram usadas para ostentar riqueza. Um dos modelos mais característicos eram as jóias com uma grande gema central rodeadas por diamantes, pérolas ou ouro.
 Há uma separação entre os períodos e ocasiões que certos modelos poderiam ser utilizados. Surgem as coleções para serem usadas de dia e outras para a noite, quando os efeitos de luz dos candelabros refletiam nas gemas, dando a elas mais vida e brilho. Muito deste efeito deve-se à evolução da lapidação. A brilhante, desenvolvida para o diamante, otimiza seu brilho e fogo, evidenciando a luminosidade desta gema, tornado-a mais exuberante e teatral.
Grande quantidade de gemas era empregada na mesma peça. A lapidação teve uma considerável evolução. As pedras e pérolas eram utilizadas em grande quantidade.
A cravação passou a ser uma característica muito observada na peça, sendo mais valorizadas as cravações mais discretas.
Trazida pelos portugueses, a arte barroca foi muito influente no Brasil, sendo Aleijadinho, nosso maior representante deste estilo.


O Neoclássico
 
O estilo neoclássico, que reinou absoluto em fins do século XVIII e durante quase todo o século seguinte, deve sua origem às escavações das cidades de Herculano e Pompéia. Mas foi por causa do imperador francês Napoleão I que o estilo consolidou-se na Europa: o imperador e sua corte vestiam-se com roupas que lembravam o estilo clássico greco-romano em muitos detalhes, assim como as jóias que os adornavam. Em 1853, Jean Auguste Dominique Ingres retratou a princesa de Broglie usando tradicionais jóias para uso diário, dentre as quais uma autêntica bulla romana, pendurada em uma corrente à volta do pescoço.

Com a fascinação e a preferência pelo design clássico antigo tão em moda, os ourives e joalheiros passam a pesquisar na história da antiguidade clássica antigas técnicas de confecção de jóias, chegando assim aos etruscos. E quem era o povo chamado etrusco? O início da história etrusca data do século VIII A.C. quando começaram a povoar o centro da península itálica, estabelecendo cidades-estados nos moldes da civilização grega. O nível artístico da arte etrusca pode ser percebido pelas estátuas que nos chegaram aos dias de hoje, nas quais a figura humana é retratada com vitalidade e detalhamento e também pelos métodos avançados de confecção de jóias utilizados, que desafiam até hoje os ourives dos nossos dias. Apenas uma de suas técnicas, a granulação, não pode ser repetida durante 2500 anos, apesar de várias tentativas feitas por ourives e artesãos ao longo dos séculos. As escavações de tumbas etruscas revelaram magníficos exemplos de jóias feitas com estas técnicas e deixaram claro que, tanto estilísticamente quanto técnicamente, elas eram superiores às jóias confeccionadas no início do período neoclássico, e rápidamente tornaram-se o que ficou conhecido eventualmente de estilo "jóias arqueológicas".
Apesar deste estilo "arqueológico" ter vindo à tona durante o período neoclássico, ambos diferem no caráter. Enquanto o neoclassicismo inspirou-se nos motivos greco-romanos para criar novos designs, a joalheria etrusca primeiro foi copiada identicamente, para só mais tarde servir de modelo para designs originais. Uma razão para isso era o reconhecimento do alto padrão os designs etruscos. Uma outra razão poderia ser a fascinação pela técnica de granulação, que permitia uma enorme variedade de padrões ornamentais.
Na granulação, minúsculas esferas de ouro são afixadas a uma base metálica, seja pelo método convencional da solda ou pela fusão. Usando esta técnica, os ourives etruscos eram capazes de realizar maravilhosos e delicados designs com grande precisão. As jóias etruscas então, faziam um grande contraste com o grainti, técnica em voga no início do século XIX. O joalheiro romano Fortunato Castellani e seus filhos foram os primeiros, depois de várias pesquisas em antigas jóias, a conseguir repetir a técnica etrusca da granulação, ornamentando assim novas peças, que fizeram sucesso imediatamente, sendo uma delas, um colar decorado com granulações e cornelianas lapidadas em formato de escaravelho, exibida na feira internacional de Londres de 1872.
A técnica da filigrana é uma outra característica das jóias etruscas, consistindo num fio de ouro extremamente fino e delicado que é torcido e retorcido de modo a formar desenhos, sendo afixado na superfície da peça pela solda, de maneira similar à granulação. Castellani era um mestre nesta técnica. O revival da joalheria etrusca também trouxe à decoração das jóias o camafeu e o intaglio. Para os camafeus, eram escolhidas gemas com camadas de cores diferentes para dramatizar o contraste entre a superfície entalhada e o fundo. Os desenhos em intaglio eram entalhados ou gravados por baixo da superfície da gema, de forma a produzir imagens em relevo.




O Rococó

As jóias do período Rococó eram assimétricas e leves, se comparadas com as do período anterior. Surgem, pela primeira vez, jóias para serem utilizadas durante o dia, mais leves, e jóias para serem usadas à noite, desenhadas especialmente para resplandecerem iluminadas pela luz dos candelabros. No período seguinte, o Neoclássico, o design das jóias adapta-se às severas linhas do estilo, que buscou inspiração nos estilos grego e romano, e que se impunha devido à simplificação do vestir e dos anos de mudanças políticas em toda a Europa e América do Norte que se seguiram à Revolução Francesa.





A história da joalheria no complexo século XIX inicia - se com as grandiosas jóias criadas para a corte do Imperador Napoleão I e que serviram de padrão para toda a Europa até à Batalha de Waterloo em 1815: os conjuntos de jóias chamados parures, compostos de tiaras, brincos, gargantilhas ou colares, e braceletes fantasticamente adornados com gemas como o diamante, a esmeralda, a safira, o rubi e a pérola, cujo esplendor sobressaía mais do que o próprio design das peças. Quase ao mesmo tempo, emergia o Romantismo, com uma volta ao design das jóias da Antiguidade e dos tempos medievais. O crescente gosto pelo luxo, encorajado por um período de prosperidade, baixos impostos e uma sociedade elitizada surgida com o boom da Revolução Industrial, foi expresso pelas inúmeras jóias guarnecidas somente com diamantes, principalmente depois da descoberta das minas da África do Sul na década de 60. Esta descoberta transformou o caráter da joalheria, que por várias décadas se concentrou no brilho em detrimento da cor, do desenho e da expressão de idéias.



Joalheria Belle Èpoque


Com o início do século XX, joalheiros como Cartier e Boucheron, adotaram um novo estilo, inspirado no século XVIII e chamado de Belle Èpoque, compondo jóia onde a delicadeza das guirlandas, das flores estilizadas e da utilização da platina, era uma reação à banalidade das jóias recobertas de diamantes. Por volta da mesma época, os joalheiros da corrente Art Nouveau, liderados por René Lalique, criaram furor na Exposição de Paris de 1900, com designs inspirados na natureza e executados em materiais como marfim e chifres de animais, escolhidos mais pela sua qualidade estética do que por seu valor intrínseco. Como não eram jóias práticas para uso, o estilo rapidamente desapareceu, com o início da 1ª Guerra Mundial. 



Um dos maiores representantes deste movimento artístico foi René Lalique, que nasceu em 1860 na França e desenvolveu técnicas inovadoras de trabalhos em vidro. Entre os objetos criados por ele, encontram-se frascos de perfumes, luminárias, etc.
Lalique iniciou seu aprendizado com Louis Aucoq e aprimorou seus conhecimentos em Sydenham Art College em Londres. Ao voltar para França começa a fazer desenhos para joalherias e em 1886 abre sua própia loja.
Suas jóias, seguindo as características do Art Noveau, foram inspiradas na fauna e flora. Através da utilização de materiais inusitados para a joalheria como vidro, marfim, ossos, entre outros, fez surgir belíssimas ninfas, mulheres aladas, insetos, pavões e diversas formas exuberantes.
Também encontramos em sua obra, gemas consideradas semi-preciosas na época, como: opalas, pérolas barrocas, ônix, opalas, jaspe entre outras. Hoje esses materiais são muito valorizados e recebem  o nome de GEMAS.


O pingente para o pescoço 'Mulher-libélula, asas abertas', 
com gargantilha de ouro, é de 1898-1900.

A beleza clássica das jóias de René Lalique

Outra característica relevante em suas criações é a utilização da esmaltação. Lalique domina a técnica e utiliza  todo o potencial do material, suas variadas tonalidades e aplicações.
A mescla de materiais inovadores com esmalte e formas orgânicas, sempre de maneira original e artística resultava em peças surpreendentes.

Com a paz, em 1918, impõe-se na joalheria o estilo Art Decó, com seu design associado ao Cubismo, ao Abstracionismo e a arquitetura da Bauhaus, os quais por sua vez sofreram influência de motivos orientais e africanos.


 Pendente Cartier,1925

Suavizado na década de 30 pelos motivos figurativos e florais reintroduzidos por Cartier.,a arte da joalheria, depois da 2ª Guerra Mundial, adaptou - se a uma clientela que comprava não só para uso, mas também como investimento. A ênfase passou a ser na qualidade das gemas, perfeitamente facetadas e montadas em peças de design de acordo com a moda. A partir da segunda metade do século XX, novas idéias e conceitos, assim como novos materiais passaram a ser utilizados pelos designers, como os metais titânio e nióbio, e também diferentes tipos de plásticos e papéis, buscando novos caminhos de expressão. 
 O valor dos materiais não tinha muita relevância, sendo utilizados materiais mais baratos o que permitiu que a jóia fosse usada por outras camadas sociais além da alta sociedade.
Neste período dava-se ênfase as lapidações e cravações elaboradas e diferentes das tradicionais.
Ditaram as tendências da moda, assim como os avanços técnicos joalherias como: Cartier, Van Cleef & Arpels, Mauboussin e Boucheron.

Peças com cravação invisível de Van Cleef & Arpels

As lapidações tiveram grande evolução, um grande exemplo está na peça de Van Cleef & Arpels: A cravação invisível -  Não vemos o metal que prende a gema. Anéis eram muito populares, várias pulseiras no braço também, assim como brincos longos, contrastando com os cabelos curtos.
A Segunda Guerra Mundial (1939 -1945) traz o final deste estilo decorativo. 


Joalheria Indiana

Há muitas centenas de anos, os habitantes do que hoje conhecemos por Índia, utilizavam como adornos pessoais materiais encontrados em abundância na natureza: couro, dentes e ossos de animais, folhas, penas de pássaros, frutas silvestres e semente (até nos dias de hoje tais jóias são ainda usadas por diferentes sociedades tribais). Escavações no Mohendojaro e em outros sítios do Vale do Indo levaram a descobertas interessantes: aparentemente, ambos homens e mulheres destas antigas épocas usavam ornamentos feitos em ouro, prata, cobre e marfim, adornados com gemas de várias qualidades. O "Ramayana" e o "Mahabharata" são abundantes em descrições de ornamentos e o "Código de Manu" define os deveres do ourives. Pelo século III aC , a Índia era o exportador líder em gemas, especialmente diamantes. O ouro era geralmente importado

Marajá de Sindh
Na Índia os ornamentos são feitos para praticamente todas as partes do corpo. Tal variedade de jóias serve como testemunho da excelente qualidade do trabalho dos ourives indianos. As jóias na Índia variam das de cunho religioso até às de cunho puramente estético. As jóias também não são feitas somente para seres humanos, mas também para os deuses, os elefantes e os cavalos cerimoniais. A arte da joalheria tem recebido patrocínio real desde tempos muito antigos. Os Rajás e Marajás competiam entre si para saber quem possuía as mais requintadas e suntuosas peças de joalheria. 

Xá Jahan

As jóias na Índia preenchem várias funções e como utilizá-las, às vezes, possui várias implicações. No mais óbvio nível, implica em atender a um desejo inato do ser humano em embelezar-se. Entretanto, as jóias também servem como identificador dos diferentes estratos da sociedade, são utilizadas como segurança econômica e como símbolo de contratos sociais. Para os Hindus, as jóias estão associadas com a maioria das cerimônias religiosas, especialmente as "Samaskaras" (estágios da vida) "e as "Vivaha"(casamento). Para ostentar o status de casada, as mulheres hindus precisam usar a "mangalsutra" ou o "thali", que consistem em pendentes de ouro, cada um com uma certa combinação com gemas. Tradicionalmente, um ourives fura a orelha da criança 12 dias depois do nascimento.


Talvez tenha sido durante o Império Mughal (1526- 1761), o mais rico período da história da joalheria indiana. Durante estes séculos, ricos rajás adornavam-se com jóias nos turbantes, nas orelhas, em volta dos pescoços, nas narinas e até entre os dentes. Os objetos preciosos usados pelas mulheres eram ainda mais numerosos. Por esta época, as jóias já haviam adquirido significados especiais e nomenclatura em conexão com as crenças religiosas e todo objeto de adorno tinha um nome específico que indicava o seu papel, como já citamos anteriormente. Para a cabeça, eram usados diademas em ouro, broches grandes e pequenos para ornamentar os cabelos, tiaras feitas de folhas de ouro contendo uma estrela cravejada de gemas ao centro ou de complicadas formas completadas com pendentes. Existiam também variados outros ornamentos para a testa, as orelhas, o nariz, o pescoço, a parte superior dos braços, a cintura, os tornozelos e os dedos dos pés.
Uma extensa variedade de composições florais era utilizada para os brincos, adornados com pérolas, filigranas, rubis, diamantes, esmeraldas, safiras e corais. Algumas mulheres furavam a narina esquerda para utilizar uma jóia também nesta parte do corpo. Os colares às vezes eram tão longos que iam abaixo do umbigo e diferentes nomes eram utilizados para aqueles que eram feitos com pérolas e os que eram somente de ouro. Também eram nomeados segundo a quantidade de voltas que podiam ter, possuindo às vezes várias dezenas. Alguns colares eram feitos com combinações de várias gemas, enquanto que outros eram combinações de vários amuletos em ouro. Um exemplo típico de amuleto hindu era o nauratan , feito de uma placa de ouro adornada com nove gemas. Vários nauratans podiam ser utilizados para formar um colar. Cintos em ouro e cravejados de gemas seguiam as formas do corpo e freqüentemente continham elementos extras que ligava-os acima até o pescoço ou abaixo até braceletes que contornavam as coxas femininas. Pulseiras nos tornozelos eram também muitas vezes ligadas por finas e delicadas correntes até os dedos dos pés.  
 
Simbologia:
As jóias de casamento na Índia têm o papel da aliança num casamento ocidental. A noiva se casa "carregada" de jóias, todas devem ser usadas nessa ocasião.
As peças mais utilizadas são: o Nath (brinco de nariz), o Bor (adorno usado na testa), o Paizeb (tornozeleira com sininhos) e os populares anéis, nos pés somente em prata. Uma peça tradicional é o Mangalsutram, que vem do sânscrito: Mangal (próspero, abençoado) e Sutram (cordão), é o cordão de casamento, só retirado em caso de morte do marido. Esse cordão é tecido com finas linhas de algodão tingidas de amarelo, são 108 pedaços de linha trançados (esse é um número de sorte para os indianos), um pingente é colocado no cordão para atrair ainda mais sorte.
A joalheria continua a desempenhar um importante papel nos costumes e na indústria da Índia moderna, mas infelizmente a produção das jóias atualmente não se compara, em termos de magnificência e requintes de elaboração com aquelas do passado.

Joalheria Africana: Jóias Asante
 
Países e regiões como Etiópia, Sudão, Ghana e território Bantu, parte por causa das heranças árabe e núbio – egípcia, parte por que eram o centro de um florescente comércio de ouro, desenvolveram e aprimoraram, com alta qualidade, a confecção de jóias em ouro, que eram na sua grande maioria destinadas à corte ou cerimônias religiosas. Também eram confeccionados tiaras, anéis, colares e braceletes para uso pessoal. Em Ghana, podemos ainda encontrar maravilhosos exemplares da arte dos ourives africanos, notadamente do grupo étnico asante. Nesta região africana, o metal que não é exportado para outros países é utilizado para a confecção de jóias para os chefes das tribos. São jóias decoradas com complicados designs. A característica principal da decoração asante é a marcante repetição destes designs. Características também são as semi-esferas protuberantes e pontudas, muitas vezes confeccionadas com um ouro mais macio e leve que decoram as jóias asante. 





Os artesãos asante trabalham o metal desde o século XIII, e se especializaram em fundição, utilizando o processo da cera-perdida. Cada chefe de uma tribo pertencente ao grupo asante tem um ourives particular na sua pequena corte.durante os séculos XVIII e XIX, a mais magnífica corte era a de asantehene, denominação para o rei do grupo asante. Um dos objetos mais significativos era o disco "portador de almas", elaboradamente decorado com motivos radiais e espirais que remetem à arte clássica. A misteriosa presença desta espécie de decoração só pode ser explicada pela vinda a esta região, provavelmente durante a idade média, de ourives europeus.

 
Joalheria Árabe


Os povos antigos da Península Arábica prosperaram como ponto de interseção das rotas de comércio do mundo, como mercadores de seus próprios recursos naturais – de início incenso e mirra - e como compradores de mercadorias de terras distantes. A Península, com o florescimento do comércio, tornou-se porta de entrada para o Oriente. As trocas comerciais passaram a envolver, tempos depois, especiarias, sedas, marfim e outras mercadorias preciosas com o Egito e os países que bordejavam o Mediterrâneo.

Com a prosperidade nesta região, veio o gosto por adornos caros e feitos de materiais preciosos. Não somente os ricos mercadores mas também as mulheres das tribos beduínas eram grandes consumidores de ornatos preciosos. Na tradição árabe, as jóias representam mais do que uma ornamentação corpórea. Para as mulheres beduínas, suas jóias simbolizam status sócio- econômico : quando uma mulher se casa, seu dote é parcialmente pago em jóias, as quais ficam sob sua vontade exclusiva, para guardar ou dispor como bem entender. Devido ao estilo de vida migrante das tribos beduínas, as jóias logo se tornaram uma forma segura de transportar riquezas. As jóias de uma mulher simbolizam seu status de mulher casada e mais tarde, o de mãe de família, já que o costume tribal é de se presentear a mãe a cada nascimento de um filho.
Na cultura árabe, as jóias têm sido consideradas como possuidoras de poderes mágicos. A turquesa, por exemplo, teria o poder de evitar o mau-olhado. Diz uma lenda popular que a turquesa teria a capacidade física de resplandecer quando quem a usa está feliz e de se tornar opaca quando a pessoa está triste. Outro mito popular seria o de que os pequenos sinos vistos tão freqüentemente em várias jóias árabes protegeriam, com o barulho que emitem ao serem movimentados, de espíritos ruins. Pelos costumes árabes, a cor de certas pedras também teria poderes especiais. Verde, azul e vermelho são consideradas cores protetoras. Por esta razão, a turquesa, a ágata, o coral e pastas de vidro coloridas nestas cores estão dentre os mais populares materiais utilizados em jóias antigas.
Motivos islâmicos permeiam o design das jóias árabes. Jóias em forma de amuletos, contendo minúsculos pedaços de papel com versos do Alcorão são comuns. O desenho de uma mão em colares sauditas tem sido usado como talismã por centenas de anos. O número 5 é o equivalente matemático à mão, assim como também representa os cinco mandamentos do Alcorão.
Ao contrário das mulheres, os homens árabes preferem ornar suas armas e camelos do que eles próprios. Tais ornamentos são considerados uma indicação visual da riqueza, do poder e do status de um homem. Na tradição islâmica, o Alcorão desencoraja a utilização de adornos em ouro pelos homens. Os modernos sauditas utilizam alianças de casamento em prata, para honrar o costumes descrito no livro sagrado.
As crianças árabes também utilizam jóias. Braceletes ou tornozeleiras feitos em prata , freqüentemente decorados com minúsculos sinos, são a escolha mais popular para presentear as crianças. Os som dos sinos, além da crença da proteção, providenciam também uma fonte de entretenimento para os pequenos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.