9 de dezembro de 2010

Estudantes transformam muros de escola em galeria de arte

Em meio ao caos urbano, recortes da História da Arte. Fragmentos de diversos períodos artísticos, desde a Arte Rupestre até a Pop Art, colorem dois quarteirões na Vila Helena, onde uma galeria à céu aberto e de livre passagem foi produzida por cerca de 100 alunos da Escola Estadual “Francisco Camargo César”. A exposição, com direito a vernissage realizado ontem, foi batizada como “A Arte e o Tempo” e faz parte do projeto “Muros Limpos”, ideia desenvolvida dentro da própria escola que tem como objetivo agir contra o vandalismo e as pichações no extenso muro do local. 

Levando em conta as reclamações da comunidade em relação ao estado do muro - vítima constante dos pichadores -, a professora de Artes, Solange Junqueira, especialista em Arte Urbana, resolver envolver os alunos para tentar resolver o problema. A solução poderia estar na arte. Para conseguir viabilizar sua ideia, a professora conseguiu uma ajuda financeira com a Secretaria de Estado de Educação. A verba de R$ 2 mil foi utilizada para a compra dos materiais. E para preparar os alunos para fazerem bonito nos muros da escola, foram necessárias algumas aulas de História da Arte.
Depois, foi só levar o conhecimento de dentro da sala de aula para o lado de lá dos muros da escola. Apesar da inauguração oficial da exposição ter ocorrido ontem, Solange já parecia bastante feliz com os resultados. “A exposição tem agitado a comunidade e possibilitado um diálogo maior entre a arte de dentro dos museus e galerias e a arte das ruas, da periferia”, comenta com entusiasmo.

Superação
Para os alunos, a oportunidade viabilizada pela professora Solange representou a aquisição de muitos conhecimentos e, o que é melhor, de maneira prazerosa. Além de aprenderem História da Arte, uma das grandes conquistas para os alunos foi descobrir a capacidade que eles têm de reproduzir, no áspero do muro, imagens referentes a cada momento artístico. Divididos em grupos, os adolescentes receberam, via sorteio, a indicação de qual movimento reproduziriam: Pop Art, Futurismo, Cubismo, Barroco, entre outros.
“Achei que não seria capaz de, depois da cartolina, passar a arte para o muro”, analisa a aluna Daniela Pereira, 17, que participou do grupo que ficou responsável por retratar a Arte Rupestre. Para ela, o exercício também foi importante para estimular o entrosamento. “Acho que aprendi a trabalhar em grupo”, diz ela. O jovem Kelso da Silva, 17, trabalhou a Arte Romana. “Começamos a estudar os arcos, a partir do Coliseu e também as letras”, explica. Para ele, a superação foi uma das maiores lições aprendidas com a experiência.

Respeito da comunidade
A estudante Anny Clérida, 17, foi bastante requisitada por seus colegas para dar uma “mãozinha” em alguns dos trabalhos. Ela ficou com a incumbência de retratar o movimento iniciado no final da década de 50 mas que teve seu ápice entre os anos 60 e 70: a Pop Art. A garota não teve muita dificuldade em sintetizar o movimento em um grafite representando a Coca-Cola, refrigerante símbolo do país onde o movimento tomou corpo por ser a pátria de um dos seus mais renomados representantes, o artista Andy Warhol.
Com dom para o desenho e habilidade de sobra, a jovem aprovou o resultado final mas torce mesmo é para que a comunidade respeite o trabalho. “Acho que eles vão respeitar sim”, confia Anny. Se depender da admiração dos populares que passaram pela galeria urbana na avenida Riusaku Kanizawa, 485, Vila Helena, o projeto veio mesmo pra ficar. 

Notícia publicada na edição de 09/12/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno B - 09 DEZ 2010 -  Sorocaba SP

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