25 de julho de 2010

Profetas do Aleijadinho



Entre os anos de 1800 e 1805, sexagenário e bastante enfermo, o artista mineiro Aleijadinho (1730-1814), realiza o conjunto de esculturas monumentais que marcaria definitivamente sua obra. Seu último projeto de vulto, os 12 profetas em pedra-sabão de tamanho quase natural, feitos para o adro dianteiro do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo, em Minas Gerais, são um dos exemplos mais contundentes do desenvolvimento do barroco no Brasil, e talvez a sua última grande manifestação.
O santuário mineiro começa a ser construído como pagamento de uma promessa feita pelo fiel português Feliciano Mendes em 1757. Espelhando-se no Santuário do Bom Jesus de Braga, Mendes, o primeiro ermitão, escolhe o Morro do Maranhão para edificação da nova igreja com o objetivo de transformá-lo em local de devoção à via-sacra de Cristo. Somente em 1796, na administração de Vicente Freire de Andrade, Aleijadinho é chamado a colaborar na obra. Com a assistência de auxiliares, executa até 1799 as 64 figuras em madeira, em tamanho natural, destinadas às seis capelas dos Passos da Paixão. Nesse ano solicitam-lhe as 12 esculturas em pedra-sabão, representando os profetas, destinadas à ornamentação do adro do santuário. Aleijadinho é responsável apenas pela parte escultórica do pátio, sendo o projeto arquitetônico de responsabilidade de Tomás de Maia Brito. Análises técnicas revelam que pela concepção arquitetônica original do adro as estátuas deveriam ter dimensões menores e serem colocadas em posição frontal. Aleijadinho transcende os dados previstos na arquitetura e cria um novo espaço subordinado à movimentação e ao tamanho de suas esculturas.


Profeta Isaías (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini



Profeta Jeremias (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini



Profeta Baruc (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini





Profeta Daniel (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini 



Profeta Ezequiel (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini 




Profeta Oséias (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini



 
Profeta Jonas (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini 




Profeta Joel (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini 




Profeta Amós (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini 





Profeta Abdias (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini 





 Profeta Naum (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini 








Profeta Habacuc (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805
pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini 

O conjunto de 12 profetas de Congonhas do Campo configura-se como uma das séries mais completas, da arte cristã ocidental, representando profetas. Estão presentes os quatro principais profetas do Antigo Testamento - Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, em posição de destaque na ala central da escadaria - e oito profetas menores, escolhidos por um clérigo segundo a importância estabelecida na ordem do cânon bíblico. Nos três planos do átrio, esculturas ordenam seus gestos simetricamente em relação ao eixo principal da composição. Abrindo a representação, estão Jeremias e Isaías de frente e atrás deles, no primeiro patamar, Baruc e Ezequiel. No terraço do adro encontram-se Daniel e Oséias, de perfil. Mais além, Jonas e Joel dão-se as costas e, finalmente, nos ângulos curvilíneos do pátio, Abdias e Habacuc erguem um dos braços, e nas extremidades do arco Amós e Naum apresentam-se de frente. Organizado segundo um jogo de correspondências, os profetas formam um conjunto unitário e ao mesmo tempo diversificado em suas partes, em perfeita organização cenográfica. Apesar da força expressiva de cada peça, é na comunicação estabelecida pela visão do grupo que a eloqüência de cada gesto atinge sua plenitude, como num ato de balé.
Analisadas individualmente, as figuras dos Profetas em Congonhas do Campo apresentam deformações anatômicas ou acabamentos desiguais que indicam a colaboração do ateliê de Aleijadinho. No entanto, a força do conjunto e seu poder de integração superam as avaliações individuais das obras. Sobre a iconografia das imagens, o historiador francês German Bazin aponta uma série de gravuras florentinas anônimas do quattrocento como fonte do artista mineiro. Em suas esculturas encontram-se o mesmo traço goticizante, como os panejamentos quebrados e em ângulos retos, e os elementos exóticos, como os barretes em forma de turbante "à moda turca". No entanto, é preciso ter em vista que a iconografia profética é cunhada na Idade Média, momento em que a representação dos profetas aparece sempre com o filactério (faixa de pergaminho com passagens bíblicas) e com a gesticulação eloqüente e vivaz. A pintura flamenga, em fins da era medieval, introduz os elementos "orientais" nessa iconografia. São comuns profetas com vestimentas exóticas na arte portuguesa entre 1500 e 1800, como é o caso das figuras no Santuário de Braga.
Pelo menos dez dentre os 12 profetas apresentam o mesmo tipo fisionômico jovem de traços elegantes com rostos estreitos, bochechas encovadas e maçãs do rosto salientes, barbas aparadas e longos bigodes.  Apenas Isaías e Naum são envelhecidos e de bardas longas. Também no que diz respeito às vestes, todos trajam túnicas longas ou curtas cobertas com pesados mantos bordados nas bordas - à exceção de Amós, o profeta-pastor que traz manto semelhante aos casacos de pele de carneiro e gorro usado por camponeses da região do Alentejo. A escultura de Daniel com o leão a seus pés destaca-se do grupo. Muitos acreditam que, pela perfeição de seu acabamento, é uma das únicas esculturas inteiramente realizada pelo mestre mineiro.


Fonte: Itaú Cultural


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