25 de julho de 2010

Albrecht Dürer

Albrecht Dürer (21 de maio de 1471, em Nürnberg, Alemanha - 6 de abril de 1528)


 Dürer representa-se frontalmente como uma espécie de Cristo surgido das trevas, em um despojamento monumental, com longas tranças douradas que provocavam o sarcasmo dos venezianos.

Identificação do gênio do artista com o criador divino, profissão de fé no classicismo do Renascimento, monumento idealizado de sua própria glória? Não sabemos.


Enquanto na Itália se desenvolve a fúlgida parábola da Renascença, a Alemanha, entre os séculos XV e XVI, se afigura ainda atrasada, impregnada de mitos, com formas sociais e sobrevivências ideológicas do tipo medieval; mesmo assim, ela aparece perpassada de frêmitos de descontentamento rural e de manifestações de profunda revolta religiosa contra as práticas corruptas e o cepticismo conciliatório, que então se achavam difundidos por todo o mundo cristão pelo opulento papado renascentista.
A Alemanha moderna nasce com a Reforma protestante, que foi, por certo, um fenômeno de componentes complexas; desenvolveu-se ao sabor de várias vicissitudes; e logo desbordou do âmbito geográfico e histórico da Germânia.
A Reforma aparece, ao mesmo tempo, como fruto da renovação renascentista  - através da valorização do homem e de sua consciência individual, com as doutrinas da livre interpretação das Escrituras e a do sacerdócio universal - e como ruptura do Renascimento - pela dramática recusa à serena perspectiva mundana da Itália quatrocentista, reafirmada prioridade das exigências místicas e transcendentes, pelo acento moral e religioso das escolhas oferecidas ao homem e ruptura da unidade cultural da Europa.
Na Reforma se determinaram e se consideraram as características típicas da nação e cultura alemãs (sirva de exemplo a prioridade dos interesses musicais em relação aos das artes figurativas.); e este processo de formação foi acompanhado por um sentido de tensão que deixou sua marca em toda a cultura alemã, até à idade moderna.
No complexo das manifestações artísticas européias do século XVI, a Alemanha ocupou posição eminente, mas de certo modo isolada. Com efeito, se na Itália, França, Flandres e Espanha as experiências artísticas acabaram revelando  um explícito desgaste dos valores autênticos e absolutos da Renascença, em consequência da infiltração de soluções intelectualizadas, divididas pela crítica em correntes maneirística e classicista, enquanto isso, na Alemanha do século XVI, assistimos a uma renovação artística determinada por forças espontâneas, germinadas do antigo tecido realista e popular, alheio a idealizações classicistas e, se assim se pode dizer, orientado para as exigências expressionistas. É no momento da investida da Renascença alemã, permeada de ânsias profundas, de rebeliões contra a magnificiência de Roma e de reservas em face do próprio classicismo quinhentista italiano, idealizador do homem, optando por um retorno a acentos arcaicos, mas sentidos, e a evidências dramáticas, indicadoras de um modo de sentir místico, em sentido heróico.
A tarefa de exprimir em sentido mais lato o espírito da Germânia cabe a Albrecht Dürer (1471 - 1528); é o maior dos artistas alemães: desenhista, xilógrafo, pintor, tratadista, retratista - multiforme na poliedricidade da produção e na profundidade da pesquisa, das dimensões de Leonardo. Ainda jovem, aos quinze anos de idade, depois de haver recebido do pai, ourives, uma primeira educação para o desenho e o buril, em Nuremberg, na escola de Wolgemuth, aprende a conhecer a pintura flamenga. Logo depois, em Golmar, o ateliê de xilografias de Schongauer lhe revela a pesquisa das formas da natureza, como componentes de valores universais. Sua viagem à Itália, em 1494, lhe revela a Renascença Italiana, principalmente nas experiências venezianas de Mantegna e Giovanni Bellini, que o emocionarão, pela ficção espacial tonal.
Em Bolonha Luca Pacioli o fascinará pela pesquisa das proporções do corpo humano, problema por ele retomado durante longos e longos anos, no exame dos seus três "Auto-Retratos" - o de 1493 (Paris, Louvre), com  forma exata e pesquisa sutil dos detalhes, até ao esmiuçamento caligráfico; o de 1498 (Madri, Prado), que o vê empenhado em idealizações renascentistas italianas, mas de cunho heróico, velado de melancolia pensativa; o de 1500, geralmente conhecido pelo título de Ecce Homo (Munique, Pinacoteca), devido a transfiguração, em sentido religioso, da essência humana, dão um fio condutor à investigação de sua evolução espiritual. Uma evolução ao mesmo tempo abstrata e insatisfeita em relação ao humanismo italiano, e que se faz compartilhante da grande hora histórica pela qual, em sentido religioso, passa o seu país. A produção é bastante variada: a medida da espacialidade, de origem mantegniana, domina a pala da Natividade (Munique, Pinacoteca), e a Adoração dos Magos (Florença, Uffizi), respectivamente de 1503 e 1504. A influência teórica de Luca Pacioli é evidente no Adão (Madri, Padro). O senso compositivo italiano, mas tornado mais pesado pelas esquematizações prevalece na Santíssima Trindade (Viena, Museu de História da Arte), não sem lembrar o ambiente romano. As xilografias que, em 15 peças, ele publicou a partir de 1498, dão a medida de sua perícia técnica e de seu poder de transfiguração de ansiedades e angústias, no contraste entre a fé e a razão, na dinâmica do protestantismo. O Cavalheiro, a Morte e o Diabo, uma das peças do Apocalípse, aspira a ser síntese do humano no contraste de aceitação e rebelião. Vastos e sonoros quanto ao colorido, Os Quatro Apóstolos (Munique, Pinacoteca),  são uma expressão de certeza no espírito da Reforma, por via de compacta consistência de diálogo e humana dignidade.
Se Dürer atribui à arte a incumbência de significar o drama do seu momento, todos os outros artistas alemães, até à metade do século XVI, se sentem influenciados por ele.



13 anos (1484)


Tinta sobre papel. 20 anos (1491)


Autorretrato com um galho de alcachofra-brava.
Museu do Louvre. 22 anos (1493).


Seu autorretrato mais conhecido e talvez uma de suas obras mais famosas.
Museu do Prado. 27 anos (1498).
Firme e intenso, com traços quase recrudescidos, Dürer olha para nós, de seu autorretrato.



Autorretrato de 1500, 29 anos.


Autorretrato nu. 33 anos (1504)


 "A Virgem da Festa da Rosa". Tinha 35 anos (1506)


Autorretrato assinalando uma costela. 50 anos (1521).


Homem com dor. Seu último autorretrato. 
Tinha então 51 anos (1522).


O Cavalheiro, a Morte e o Diabo -Xilografia


 Mãos em Oração


Bibliografia consultada:  Pischel, Gina - História Universal da Arte - vol.2

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