26 de janeiro de 2010

Patativa do Assaré




Meu Deus, meu Deus
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai

Assim se inicia um dos mais tristes poemas nordestinos. Triste e belo. Poema que se tornou eterno na voz de Luiz Gonzaga. Seu autor - uma das principais figuras da música nordestina do século XX – é Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré.

Nascido em 5 de março de 1909 na Serra de Santana, no município de Assaré, no sul do Ceará. É o segundo filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais popular do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão', declamava.
De família pobre que vivia da agricultura de subsistência, cedo ficou cego de um olho por causa de uma doença. Com a morte de seu pai, quando tinha nove anos de idade, passa a ajudar sua família no cultivo das terras. Aos doze anos, freqüenta a escola local, em que é alfabetizado, por apenas alguns meses. A partir dessa época, começa a fazer repentes e a se apresentar em festas e ocasiões importantes. Por volta dos vinte anos recebe o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave.

Seu primeiro livro, “Inspiração Nordestina” veio em 1956. Recebeu segunda edição com acréscimos em 1967 e passou a se chamar “Cantos do Patativa”. Em 1970 é lançada nova coletânea de poemas, “Patativa do Assaré: novos poemas comentados”, e em 1978 foi lançado “Cante lá que eu canto cá”. Os outros dois livros, “Ispinho e Fulô” e “Aqui tem coisa”, foram lançados respectivamente nos anos de 1988 e 1994.

A transcrição de sua obra para os meios gráficos perde boa parte da significação expressa por meios não-verbais (voz, entonação, pausas, ritmo, pigarro e a linguagem corporal através de expressões faciais, gestos) que realçam características expressas somente no ato performático (como ironia, veemência, hesitação, etc.). A complexidade da obra de Patativa é evidente também pela sua capacidade de criar versos tanto nos moldes camonianos (inclusive sonetos na forma clássica), como poesia de rima e métrica populares (por exemplo, a décima e a sextilha nordestina). Ele próprio diferenciava seus versos feitos em linguagem culta daqueles em linguagem do dia-a-dia (denominada por ele de poesia "matuta").

Obras:
Livros de poesia
1956 - Inspiração Nordestina (2003).
1967 - Inspiração Nordestina: Cantos do Patativa.
1978 - Cante Lá que Eu Canto Cá.
1988 - Ispinho e Fulô (2005).
1991 - Balceiro. Patativa e Outros Poetas de Assaré (Org. com Geraldo Gonçalves de Alencar).
1993 - Cordéis (caixa com 13 folhetos).
1994 - Aqui Tem Coisa (2004).
2000 - Biblioteca de Cordel: Patativa do Assaré (Org. Sylvie Debs).
2001 - Digo e Não Peço Segredo (Org. Guirlanda de Castro e Danielli de Bernardi).
2001 - Balceiro 2. Patativa e Outros Poetas de Assaré (Org. Geraldo Gonçalves de Alencar).
2001 - Ao pé da mesa (co-autoria com Geraldo Gonçalves de Alencar).
2002 - Antologia Poética (Org. Gilmar de Carvalho).
Poemas
A Triste Partida
Cante Lá que eu Canto Cá
Coisas do Rio de Janeiro
Meu Protesto
Mote/Glosas
Peixe
O Poeta da Roça
Apelo dum Agricultor
Nordestino Sim, Nordestinado Não
Se Existe Inferno
Vaca estrela e Boi Fubá
Você
Vou Vorá
e Lembra?
Patativa do Assaré entrevistado por Jackson Bantim (Bola) em Assaré Ceará 

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