29 de abril de 2010

Indumentária Gaúcha


O Gaúcho não é unicamente o indivíduo natural do Estado do Rio Grande do Sul. O Gaúcho é o homem cavaleiro das Américas, que recebe na Argentina e no Uruguai o nome de Gaucho, no Brasil de Gaúcho, no Chile de Guaso, na Venezuela de Ilanero e no México de Charroe. O Gaúcho é o vaqueiro, é o homem ligado ao campo e ao gado é o homem que existe para enfrentar a intempérie, o vento, a chuva, o trovão e tomar conta dos animais. Ele que inicialmente era simplesmente um caçador, tornou-se um verdadeiro protetor da ecologia. Para o Gaúcho, a única forma de viver é no campo e ao ar livre, no lombo do cavalo.

O gaúcho, originalmente chamado de vago ou gaudério, surgiu nas fronteiras da Argentina com o Uruguai e com o extremo sul do Brasil. Produto da miscigenação indígena com luso-brasileiros e espanhóis, vivia da criação de gado. Suas roupas eram funcionais, reflexos de uma origem nômade.
A população citadina acompanhava a moda européia, mas ao gaúcho tais variantes não faziam a menor diferença. Só importava que as roupas fossem confortáveis e funcionais. No final do século XIX, este peão resolve abandonar a vida nômade e se estabiliza no Rio Grande do Sul, acabando por enriquecer a sua indumentária.

Traje do peão

Chiripá farroupilha - Pano inteiro passado por entre as pernas, atado na cintura, primeiro de trás para frente e após, da frente para trás. Tecido de lã ou então liso em tear ou sem listras somente nas laterais (barrados), ambos admitem franjas. Comprimento tomado pelo fundilho, na altura da metade da canela, cujo comprimento não passa da altura do joelho para facilitar o movimento.
Camisa
- Tecido algodão ou linho. Padrão liso, com gola ampla ou de padre (corte da época) com mangas longas, sem cava e punho estreito amarrado com cadarços ou ajustado com botão, fechada na frente, estando aberta até a altura do peito, fechada por cadarços ou botões e sem rendas.
Colete ou jaleco
- Tecido encorpado com uma só ordem de botões, sem ou com gola pequena, de um só tecido e cor (sóbria), abotoado na frente com uma única carreira de botões, sem fivela de ajuste.
Jaqueta
- Modelo com botões metálicos, sem correntes, de tecido encorpado ou ainda de lã, na altura da cintura.
Ceroulas
- Algodão, com ou sem macramé, sem franjas se usadas por dentro da bota, com franjas se usadas por fora da bota, cujo comprimento não deverá passar a altura do início do calcanhar para não pisar na franja.
Detalhes
- Lenço preto só nos casos de luto. Jamais em festas e bailes. Lenço xadrez de branco e preto também é luto (aliviado). Os nós mais conhecidos são: nó de correr, nó de namorado, nó de rodeio, nó cabeça de boi, nó de dois galhos, rapadura.
Chapéu
- Chapéu de feltro, copa alta arredondada e aba curta com barbicacho de seda e sem metal (usado com o lenço vermelho, ou na cabeça ou no pescoço, com nó republicano). Chapéu de feltro copa baixa e aba larga com barbicacho de seda e sem metal (usado com lenço no pescoço, nas cores branco, bege ou ainda vermelho, com outro nó, que não o “republicano”).
Guaiaca
- Lisa, com uma ou duas fivelas, bolsos em número de um a três.
Bota
- Modelo tradicional. Couro liso modelo tradicional cor preta, marrom escuro, ou marrom avermelhado. Estilos conforme a região.
Faixa
- De cor vermelha, preta ou bege-cru, de lã, com 10 a 12 cm de largura, sem bordado.
Esporas
- Seu uso é facultativo.
Lenço
- Usado na cabeça ou no pescoço, nas seguintes formas:
  • Se usado na cabeça, vai obrigatoriamente representar o farrapo: de seda, na cor vermelha, de tamanho grande, cobrindo os ombros, com o nó republicano no peito (atado no próprio lenço da cabeça, com o nó republicano, sem outro lenço no pescoço).
  • Se no pescoço: quando representar o farrapo. De seda, na cor vermelha, com nó republicano de simbolismo político, composto de dois topes e uma “rapadura” ao centro - vermelho de 1835.  
Barbicacho - Termo usado em Portugal e na Espanha, é um cordão ou tira de couro passada por baixo do queixo. Suas extremidades superiores são presas, lateralmente, na parte interna da carneira do chapéu, para evitar que este caia na cabeça com o vento ou com movimentos do trabalho do gaúcho. 

*Eduardo Amorim é um dos maiores fotógrafos do Rio Grande do Sul, seja na influência que seus trabalhos criam ou simplesmente no retrato de nossa estética, costumes e tradições, ilustra de forma magnífica a indumentária usada pelo gaúcho..
Confira algumas imagens e não deixe de passar no Flickr de Eduardo. O endereço está Aqui
 

Botas Garão de potro (fechada)
Foto: Eduardo Amorim


O folclorista alemão Lehamann Nitsche, pesquisador do folclore argentino, realizou um estudo no Museu de História e Arte de Berlim, em 1908, constatando que a bota de potro ou de vaca aparecia em quase todos os povos primitivos da antiguidade.
Foi o primeiro calçado fabricado pelos nossos índios e gaúchos, por volta do século XVIII. Era comum a tropeiros, changadores, paulistas e lagunistas que tropeavam mulas para Minas Gerais.






Estribo de prata
Foto: Eduardo Amorim
 

Montaria
Foto: Eduardo Amorim 
 

La guayaca
Foto: Eduardo Amorim

Com uma ou duas fivelas, bolso para relógio à esquerda, bolso maior às costas, meio coldre do lado de laçar, uma bolsa para moedas; geralmente de couro curtido ou modelos funcionais.

 
Boleadeiras
Fotos: Eduardo Amorim

 
Usados por nosso homem do campo a partir do século XVIII, também chamado de  "potreadora" ou "Três Marias".
Ele consiste basicamente de três pesos de pedra esférica ou em forma de pêra (pedras indianas ou pedregulhos), madeira, metal (bronze de ferro ou chumbo), balas, muitas vezes antigos, chifre (guampa) neste caso em forma e cheio de chumbo. Essas três unidades são mutuamente equilibradas em termos de volume. A menor, mais leve,  permanece na mão até o momento da liberação.






O chapéu
Foto: Eduardo Amorim 
 

Os portugueses trouxeram dois tipos de chapéu: o de feltro, de copa alta, e o de palha, comumente chamado de "abeiro". O chapéu de feltro era caro, usado normalmente por homens de posse. O de palha (de arroz, de trigo ou de milho) era do homem comum e da gurizada das estâncias. Militares, magistrados e pessoas importantes usavam até a primeira metade do século 19 o chapéu bicórnio estilo napoleônico, conforme descrição dos cronistas do passado e de pinturas de Jean-Baptiste Debret, substituído depois pelo chapéu tricórnio.
Após a guerra do Paraguai, a copa do chapéu de feltro vai se achatar e a aba do chapéu ficará mais larga, tomando as formas que o chapéu campeiro gauchesco ostenta até hoje, invariavelmente preso por um barbicacho que passava por baixo do queixo ou abaixo do lábio inferior. O barbicacho surgiu pela necessidade de fixar o chapéu á cabeça durante o ato de cavalgar, sobretudo nas galopadas. O chapéu do tropeiro sempre foi característico: para não juntar água em caso de chuva, a copa era e ainda é amassada em forma de pirâmide. O gaúcho da fronteira gosta de usar o chapéu de feltro com abas mais ou menos retas, como o chapéu português do campino ribatejano. Já o gaúcho serrano tradicionalmente usava o chapéu desabado na frente e atrás. Depois do advento do cinema e do caubói, o gaúcho serrano passou a levantar as abas do chapéu dos dois lados.


 


Mas o chapéu mais tipicamente gauchesco, o mais original, era o "chapéu pança de burro", cortado circularmente da barriga de um muar e amoldado, ainda fresco, na cabeça de um palanque. Com o uso, perdia o pêlo e tomava uma cor esbranquiçada, conforme aparece em quadros de Debret. 








O lenço do gaúcho
Desde o início da colonização do território do atual Rio Grande do Sul, o lenço vem acompanhando nossa evolução. As tribos indígenas, que habitavam nossas terras, especialmente os Charruas, Jaros e Minuanos, com cabelos compridos, usavam tira, fita ou “vincha”, prendendo suas cabeleiras.
Após a chegada dos espanhóis e portugueses é que surgiu a moda de cortar o cabelo.

Em razão dos longos cabelos, que usavam, os indígenas prendiam com tiras de imbira ou couro de pequenos animais. Já na época dos padres missioneiros espanhóis passaram a usar o pano, que circundava a testa a parte traseira do pescoço. Essa tira servia para prender os cabelos e afastá-los dos olhos, na investidas para as caçadas, disputas esportivas ou batalhas de guerra.
As matas bravias e as grandes distâncias a percorrer foram tornando pouco eficaz tal forma de uso da tira. Passaram a prender seus cabelos, puxando parte para trás da cabeça, atando o maço rente a cabeça. À moda “colo-de-cavalo”. Nesse período registra-se o “Peão das Vacarias”. Ele usava tal fita prendendo os cabelos e que era chamada, pelos platinos de “vincha”.
As lutas barbarescas do sul-rio-grandense primitivo mesclaram o ideal e a coragem retemperados pelo sangue bravio, suor e o Vento Pampeano. Ficaram impregnadas, na vincha do herói anônimo, que a história esqueceu, muitas lições de bravura.
Embora que em nossas pesquisas não encontrássemos, qualquer autor referindo-se ao fato, temos a firme convicção de que o lenço de pescoço não surgiu como um adorno, mas sim da evolução da vincha, pelas circunstâncias da época. Quando no modismo de cortar os cabelos não haviam mais motivos para o peão usar a tira atada à cabeça. Foi, possivelmente, conservada, enlaçada no pescoço, com as pontas atiradas para trás, grande, retangular, com as pontas viradas para trás, nos moldes usados atualmente pelas mulheres.


O lenço desceu da cabeça para o pescoço, ainda com as pontas para trás. Sua maior afirmação foi quando adotado politicamente, como designativo de cor partidária. Os companheiros ou inimigos eram reconhecidos, na distância, pela cor do lenço. As pontas atiradas para trás pouco destacavam a cor – símbolo de luta. Surgiu, finalmente, o lenço do gaúcho, nos moldes atuais, atado ao pescoço, solto ao peito. Passou a ser instrumento de identificação, ao longe, tremulando ao vento.
Há várias formas de atar o lenço gaúcho. As mais tradicionais são 8 formas. Duas têm origem política, o Nó Farroupilha, de uso nos anos de 1835 a 1845 e o Nó Federalista, de 1893 a 1896. O pano geralmente usado é a seda. Um lenço esvoaçando ao vento, sobre o peito de gaúcho, é uma marca registrada da altivez de nossa indumentária gaúcha.  

Simples ou Chimango Identificou-se com o lenço branco usado pelos pacifistas e opositores aos Maragatos nas Revoluções Federalistas de 1923 e 1930, sendo assim apelidados de Chimangos. Este nó também pode ser dado em lenços nas cores: azul-claro, azul-escuro, verde, amarelo, branco, preto, preto-branco, verde-claro, bege, marrom, vermelho-branco, bicolor e multi-cor. Quatro Cantos, Rapadura ou Maragato  Adotado pelos rebeldes denominados Farroupilhas que usavam-no em seus lenços vermelhos durante a Revolução Farroupilha. Aceita-se ainda este nó em lenços: encarnado, colorado, preto e preto-branco. Saco de Touro, Três Galhos e Amizade Também chamado de nó Farroupilha é usado em lenços de cores: encarnado, vermelho, colorado, verde, preto e preto-branco. Crucifixo Ficou assim conhecido por que ao modo de usá-lo parece o peão estar com um crucifixo no pescoço, muito usado em missas e festas religiosas não havendo restrições quanto a cor de lenço para seu uso. Pachola Possui duas posições, destro e canhoto, identificando assim o peão que o usa. Pode ser usado em lenços de todas as cores, exceto em preto e preto-branco. Papagaio, Soledade ou Triangular  Um dos mais belos nós, não havendo restrições quanto a cor do lenço em que vai ser usado.
 
Namorado
Possui três posições na medida em que os nós são afastados sendo elas: apaixonado, se o nó estiver apertado; querendão, se houver espaço entre os nós; e livre se o espaço se alargar. Pode ser usado em lenços de todas as cores.





De Calzoncillo e Chiripá


 Esporas
Foto: Eduardo Amorim 

Esporas - Peças de metal, adaptadas nas botas, servindo para acicatar a montaria. Compõe-se de roseta, papagaio, garfo e correia. No Rio Grande do Sul, basicamente, existem dois tipos de roseta, cujos tamanhos variam de acordo com o gosto de cada um. A espora nazarena: toda a roseta é feita de cinco ou seis pinos agudos (assemelhando-se aos espinhos da coroa de Cristo, daí o nome de Nazarena). A espora chilena tem o formato de serrilha circular,de vários tamanhos, cujo modelo lembra, vagamente, as sonantes esporasdos "huasos" chilenos (vaqueiro que se assemelha em algumas técnicas de trabalho com os gaúchos das três pátrias; é chamado de maturango pelos argentinos), são de formato côncavo e redondo. 

Coincidindo em traços gerais com a Guerra do Paraguai, surge nos pampas uma peça de indumentária: "os cações bombachos", as "as calças bombachas" ou simplesmente as bombachas. No Uruguai, onde aparecem antes,são chamados também de "calzones chinos", porque tudo que fosse do Oriente, para os castelhanos, era chines.

 Faixa
Fotos: Eduardo Amorim

Faixa - Colocada ao redor da cintura, serve para cingir os rins tanto nos trabalhos campeiros como em trajes festivos. Feita com tecido de lã ou algodão, mede 2,80m por 0,18cm de largura. Normalmente tem as cores preta, vermelha ou azul marinho, mas também há algumas multicores, feitas no norte da Argentina ou no Paraguai.


 Tirador

Tirador - É uma espécie de avental com couro de boi, cavalo ou capivara, usado pelo campeiro para proteger seus flancos contra a fricção do laço ao prender um animal. O homem do campo veste o tirador somente para o trabalho.

Pala

Pala - Espécie de capa de formato retangular com franjas nos lados estreitos do retângulo. Tem uma abertura central por onde a cabeça é enfiada. O pala cai sobre os ombros e é feito com lã, algodão ou seda, sempre em tecido leve. É usado nas estações menos frias.
Poncho-pala - De lã espessa, formato retangular, com extremidades arredondadas e franjadas, possui uma gola aberta onde se enfia a cabeça. É abrigo de inverno. 
Poncho - De lã ou outro tecido grosso, compacto, às vezes, impermeável, tem formato arredondado e, geralmente, é forrado de baeta vermelha. Possui uma abertura central, para enfiar a gola com botões. Serve de abrigo para o frio rigoroso e para a chuva.

Fontes: 1, 2, 3












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