8 de fevereiro de 2010

Inventário dos terreiros do Distrito Federal e Entorno




IPHAN lança livro que mapeia terreiros onde se praticam o Candomblé e a Umbanda no DF


Mãe Railda comanda o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá
Ilê Oxum, em Valparaíso, desde 1972: 
 

Do portão, já é possível perceber que esta não é uma chácara como as da vizinhança. Pequenas casas de alvenaria estão espalhadas pelo terreno, em torno de um grande barracão. Sobre ele, uma bandeira branca celebra a paz. As centenas de árvores são decoradas com tiras de pano que envolvem o tronco, representando uma reverência à natureza. Ao fundo, escuta-se o som da água que corre a partir de um córrego ou de uma nascente — símbolo da vida para os visitantes do local. Estamos em uma casa de Candomblé, ambiente desconhecido pela maioria dos brasilienses. Para preservar e divulgar a cultura e as religiões de matrizes africanas, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vai lançar este mês o livro Inventário dos terreiros do Distrito Federal e Entorno. A publicação conta a história e revela segredos dos principais locais de culto da capital federal.
A publicação será distribuída gratuitamente em bibliotecas, órgãos públicos e também entre pesquisadores e interessados pelo universo do Candomblé e da Umbanda. Durante a pesquisa, as equipes do Iphan identificaram e catalogaram 26 terreiros em várias cidades do Distrito Federal e do Entorno. Pelas suas características, as casas de culto costumam ficar em locais mais afastados e de difícil acesso, como chácaras de áreas rurais. Todas realizam, com frequência, festas públicas, além de prestarem serviço de aconselhamento espiritual particular.
É o caso do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá – Ilê Oxum, comandado por Railda Rocha Pitta, 72 anos — conhecida por todos como Mãe Railda. Construído em um amplo terreno em Valparaíso, a 45 quilômetros do centro de Brasília, a casa é uma das mais tradicionais da região e recebe até deputados e ministros de Estado. Fundado em 1972, o terreiro começou com a doação do lote por um amigo pessoal de Mãe Railda. Ao longo das últimas quatro décadas, ela consolidou a estrutura que hoje consiste em um grande barracão e nas casas dos orixás espalhadas pelo lote.

Reconhecimento

Mãe Railda conta que decidiu abrir o terreiro em Brasília por orientação de Mãe Menininha do Gantois — que foi uma das mais famosas representantes brasileiras do Candomblé. “Ela abriu o jogo de búzios para mim e disse que eu havia sido escolhida por Xangô. Mãe Menininha me garantiu que eu teria um terreiro grande em Brasília para cuidar do povo”, relembra Railda. De tão reconhecida, ela é frequentemente chamada para representar o Candomblé em cerimônias oficiais.

Publicação conta a história dos principais locais de culto no DF.

Uma forma de lutar contra o preconceito

O superintendente do Iphan no DF, Alfredo Gastal, conta que a preocupação do instituto com a preservação dos terreiros tradicionais começou há 25 anos, com o tombamento de uma das casas mais antigas de Salvador, a Casa Branca. “Nós, brasileiros, tivemos influência europeia, asiática, mas a cultura negra permeou absolutamente todos os aspectos das nossas vidas. Não podemos ignorar a importância dessa contribuição”, destaca Gastal.
Ele acredita que a divulgação do inventário dos terreiros do Distrito Federal vai ajudar a reduzir o preconceito da sociedade em torno das religiões de matriz africana. “O estudo é uma forma de esclarecer quem nós somos. Não podemos aceitar no Brasil nenhum tipo de preconceito religioso, cultural ou racial. Somos feitos de uma mescla de gente de uma riqueza fantástica”, finaliza o superintendente do Iphan.

Fonte: IPHAN


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