4 de fevereiro de 2010

Carybé



Carybé 


(Hector Julio Páride Bernabó)
1911 (Lanus-Argentina)
1997 (Salvador-Bahia)

Retratista fiel das tradições, crenças e costumes do povo baiano,Carybé projetou em sua arte os fundamentos da nação brasileira, na qual se misturam o negro, o índio e o branco. Desprezava a mitificação de seu trabalho, dizendo que "rabiscar papel e pintar telas não são atos de criação". Resumidamente, contentava-se em afirmar: "Eu copio a vida".

Argentino naturalizado brasileiro, Hector Julio Páride Bernabó ficou internacionalmente conhecido como Carybé, um destacado artista plástico figurativo do século 20.
Nascido em 7 de fevereiro de 1911, na pequena cidade de Lanús, subúrbio de Buenos Aires, o pintor viveu em Gênova e Roma (Itália) dos 6 meses aos 8 anos. Em 1919, veio morar no Brasil onde completou os estudos secundários no Rio de Janeiro e estudou na Escola Nacional de Belas Artes.
Em 1927, retornou para a Argentina, onde trabalhou em diversos jornais, até que o periódico 'Prégon' o contratou para viajar por vários países fazendo e enviando desenhos e reportagens de onde passasse. Com isso, Carybé começou a ter contato com várias culturas e diferentes formas de expressão artística, que influenciaram o seu trabalho como pintor. Em uma dessas viagens conheceu Salvador, onde começou a ter contato com a cultura baiana.
Até meados dos anos 40, Carybé viveu entre vários países, mas sempre retornando ao Brasil. Neste período, trabalhou como ilustrador de obras literárias e traduziu o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, para o espanhol. Em 1943, fez sua primeira exposição individual e ilustrou o livro "Macumba, Relatos de la Tierra Verde", de Bernardo Kordan.
Em 1946, casou-se com Nancy, na província argentina de Salta, com quem teve dois filhos, o artista plástico Ramiro e a bióloga Solange. Após várias viagens para Salvador, em 1950 foi morar definitivamente na capital baiana, onde, através de uma carta de recomendação de Rubem Braga, foi contratado para fazer murais em prédios e obras públicas.
Durante os quase 50 anos em que viveu na Bahia, Carybé desenvolveu uma profunda relação com a cultura e com os artistas de Salvador. As manifestações culturais locais, como o candomblé, a capoeira e o samba de roda, passaram a marcar a sua obra. Ao lado de outros artistas plásticos, como Jenner Augusto, Mário Cravo e Genaro de Carvalho, participou ativamente do movimento de renovação das artes plásticas no Estado.
Bastante eclético, Carybé experimentou ao longo de sua vida grande parte das técnicas artísticas conhecidas, como aquarelas, desenhos, esculturas, talhas, cerâmicas, entre outros. Além desses trabalhos, destacou-se também na criação de diversos murais pelo mundo, entre eles, um no Aeroporto de Nova York.
Em 1957, o artista naturalizou-se brasileiro. Entre seus grandes amigos no país, destacou-se o escritor Jorge Amado, que escreveu, em sua homenagem, 'O Capeta Carybé'. Na obra, o artista foi definido como "feito de enganos, confusões, histórias absurdas, aparentes contradições, e, ao mesmo tempo, é a própria simplicidade". Carybé fez desenhos em inúmeras obras de Amado, além de ilustrar trabalhos para livros de outros autores de grande expressão, como Mário de Andrade, Gabriel García Márquez e Pierre Verger.
O artista também escreveu livros como 'Olha o Boi' e foi co-autor da obra 'Bahia, Boa Terra Bahia', com Jorge Amado. Em 1981, após 30 anos de pesquisa, publicou a Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia. Realizou também roteiros gráficos, direção artística e figurinos para teatro e cinema.

Ilustrando

Ascensão 

  
Cangaceiros

Cosme e Damião

Carnaval

Ilustração de Carybé

Por quase toda a sua vida, o pintor acreditou que o seu apelido Carybé provinha de um pássaro da fauna brasileira. Somente muitos anos depois, através do amigo Rubem Braga, descobriu que a sua alcunha significava 'mingau ralo', o que lhe rendeu diversas brincadeiras.
Frequentador do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, Carybé morreu aos 86 anos, no dia 1° de outubro de 1997, em Salvador, durante uma cerimônia no próprio terreiro. O artista deixou como legado mais de 5.000 trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços.
Adotando a natureza típica da terra, o pintor integrou-se suavemente ao candomblé, a religião dos negros iorubás, fazendo-se filho de Oxóssi e presidente do Conselho dos Obás no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, da Mãe Stella.

Acima de tudo, no entanto, tinha o título de Obá de Xangô, o posto mais alto dado pelo candomblé, seu maior orgulho. "Sou amoroso e devoto da religiosidade afro-brasileira, de seus deuses modestos e humanos, que hoje se defrontam com estes deuses contemporâneos, terríveis e vorazes, que são a tecnologia e a ciência", dizia.
Segundo o amigo, o escritor Jorge Amado, Carybé foi como um observador de dentro, envolvido com a religião, que ele se dispôs a retratar. "Outros podem reunir dados frios e secos, violentar o segredo com as máquinas fotográficas e, com os gravadores e fazer em torno dele maior ou menor sensacionalismo, a serviço dos racismos diversos, mas apenas Carybé e ninguém mais poderia preservar os valores da religião da Bahia".

Nancy, sua esposa durante 50 anos, costumava contar que o marido era um homem de tanta fé que jamais levava papel ou lápis para as cerimônias.

 
 Vadiação

  
Batucada

 
 Festa do pilão de Oxalá



Carybé não era nem argentino nem italiano. Era um homem de muitas cores, absorvendo todas elas, assim como o faz o preto na escala cromática. Pintava negros, índios e brancos. Quando partiu para outra viagem, disseram que foi fazer arte no céu.

É provável que um dia desses, ao acordarmos e olharmos para as nuvens, encontremos nelas grandes baianas com seus tabuleiros ou negros jogando capoeira . Pode ser também que todo o céu se transforme numa imensa aquarela ou que o arco-íris mude de cor. Para quem veio de longe mostrar ao povo da Bahia a beleza desta terra, nada é impossível. Nem mesmo ser Obá de Xangô. E em se tratando de tão alto posto na hierarquia dos orixás, nada mais adequado que despedir-se saudando seu orixá-regente: KAWÓ-KABIYÈSILÉ.

 
 Bahia

  
 A Mulata Grande III

 
 Xaréu

 
Os Caçadores 



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