26 de janeiro de 2010

José Antônio Lutzenberger



José Antônio Lutzenberger - Lutz para os amigos - Sua vida foi toda dedicada à natureza e, não por acaso, tornou-se um dos maiores defensores do naturismo. Muitas vezes era visto nu em sua casa e não entendia que houvesse gente capaz de pôr malícia nessa prática. Era gaúcho de Porto Alegre mas sua paixão pela agronomia - na qual se formou em 1950, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - levou-o para a Universidade de Louisiana (EUA), em 1951-53, onde se especializou em agroquímica. Quatro anos depois seguiu para a Alemanha, contratado pela empresa de adubos Basf como técnico. Da Alemanha, seguiu para a Venezuela a serviço da empresa. Voltou à Alemanha em 1966 para continuar o que vinha fazendo na Venezuela e no ano seguinte a Basf mandou-o para Casablanca, no Marrocos, onde sua experiência e conhecimento foram postos a serviço também da Argélia e Tunísia. Quando percebeu que era intenção da Basf fabricar também agrotóxicos, Lutz entendeu que seria uma traição aos seus princípios se continuasse na empresa. Pediu demissão, abandonou de vez a indústria química e tornou-se ecologista. Ele queria, disse mais tarde, ''uma agricultura livre de produtos químicos nocivos''. Junto com outros amantes da ecologia, fundou, em 1971, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), primeira ONG brasileira do gênero e que ele presidiu de 1971 até 1987. A partir daí Lutz nunca mais se separou de sua bandeira e por ela travou muitas e duras batalhas. A primeira foi com a empresa de celulose norueguesa Borregaard, instalada no município de Guaíba e contra a qual recaía a acusação de maior poluidora de Porto Alegre. A empresa acabou passando para o grupo Klabin, graças ao qual, foi criado com sucesso um programa de reciclagem dos resíduos industriais. Outras batalhas do ainda pouco conhecido ecologista foi contra a poda de árvores na capital gaúcha, que ele considerava incorreta. Até contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) Lutz brigou. ''O Incra, que só faz barbaridades, deveria desaparecer'', chegou a dizer.


Quando, em 1987, deixou a Agapan, criou a Fundação Gaia, destinada a desenvolver estudos com vistas à conservação da vida no planeta - e em cuja sede passou os últimos anos de vida e pediu para ser enterrado.

Ali também tinham lugar seus bichos de estimação, especialmente gatos, além dos peixes na lagoa. Criou ainda os parques ecológicos da Guarita e Itapeva, em Torres (RS). A convite do presidente Fernando Collor, foi empossado em março de 1990 secretário nacional de Meio Ambiente, cargo em que permaneceria até abril de 1992 - quando foi demitido, dois meses antes da Eco que atraiu ao Rio de Janeiro a atenção do mundo. Se alguém queria, mesmo por brincadeira, ver Lutz irritado, era só falar dessa experiência. ''Brasília, só de lembrar, me faz mal'', dizia. Entre as mais de 85 homenagens que recebeu no Brasil e no exterior, entre prêmios, medalhas, placas e distinções várias, está o Prêmio Nobel Alternativo concedido em 1988, por seus trabalhos científicos, pela The Right Livelihood Award Foundation. Na Europa, Lutz era considerado o ''pai dos movimentos ecológicos da América Latina''. Apesar do que, Lutz disse uma vez: ''Não tenho medo dos transgênicos, que são proteínas como qualquer outra''. Opunha-se era contra os agrotóxicos, as usinas nucleares, a destruição das matas e a matança dos animais silvestres. ''Era um purista e sonhador capaz de defender a eliminação dos combustíveis fósseis, caso dos derivados de petróleo'', disse Rodney Ritter Morgado, gerente do Ibama no Rio Grande do Sul. Era viúvo de Anemarie Wilm, com quem teve duas filhas, ambas biólogas: Lilly, 40, e Lara, 32.

Este vídeo mostra um grupo de professores participando de um curso de educação ambiental na Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger, em Porto Alegre, RS.

O ambientalista faleceu aos 75 anos, em 14 de maio de 2002. Foi enterrado dentro um bosque no Rincão Gaia, um santuário ecológico que ele mantinha em Pantano Grande, no interior do Rio Grande do Sul. Conforme desejo expresso em vida, Lutzenberger foi enrolado num pano, sem sapatos, e colocado na terra sem caixão.

Frases de Lutzenberger:

"Me interesso muito pouco pela minha pessoa. Olho sempre para a frente. Custo a entender que estou com 75 anos."

"Em Brasília, todos são cínicos e não entendem como você não possa ser (sobre sua passagem como ministro do governo Collor)."

"A Alemanha fez penitência pelo holocausto. Mas o Brasil ainda deve a sua pelo que fez com os índios e os negros."

"A sociedade de consumo é, no fundo, uma religião fanática, um fundamentalismo pior do que o do Bin Laden. Está arrasando o planeta."

"O livre mercado não resolve tudo, até porque é manipulado. O mercado só vê demanda, não vê necessidades. Os mercados são cegos para as gerações futuras."



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.