13 de janeiro de 2010

Francis Bacon


Francis Bacon
 (1561-1626): 

Bacon é o primeiro de três famosos filósofos cortesãos que se sucedem na corte inglesa: Bacon, Hobbes e Locke. Ao tempo de Bacon surgem obras científicas e filosóficas importantes. Bruno, em 1584, publica "Do Infinito, do Universo e dos Mundos"; o próprio Bacon publica, em 1597, "Ensaios de Moral e de Política" e em 1620, "Novo Organon das Ciências; Campanella, em 1620, publica "Sobre a Sensação das Coisas e a Magia"; e novamente Bacon, em 1623, "Grande Instauração". Campanella publica, em 1623, "A Cidade do Sol"; Galileu, em 1623, "O Mensageiro Celeste"; e Descartes, em 1637, "Discurso sobre o Método."
Francis Bacon viveu à época de Isabel (ou Elizabete) I. Nasceu em Londres, na propriedade York House, que ficava na esquina da rua Villiers com a rua Strand, em 22 de janeiro de 1561, filho mais novo de Sir Nicholas Bacon e Anna Cook, a segunda esposa de seu pai. Sir Nicholas ocupava o cargo de Lord Guardião do Selo Real ("Lord Keeper of the Seal"), função geralmente de um sacerdote ou jurista muito culto. O guardião era incumbido da redação dos escritos da corte, e tinha sob sua custódia o selo ou instrumento de imprimir o sinal do Rei sobre o lacre de autenticação dos documentos reais. Sua mãe era intelectual puritana e o vigiava quanto a amizades e leituras, sem no entanto conseguir que fosse um puritano exemplar.

Começou a sua carreira de homem político e jurista, antes sob a rainha Isabel, e, depois, sob Jaime I, subindo até aos mais altos cargos: advogado geral em 1613, membro do Conselho particular em 1616, chanceler do reino em 1618. Foi agraciado por Jaime I com os títulos de Barão de Verulamo e Visconde de S. Albano. Entretanto foi acusado de concussão e condenado pelo Parlamento a uma multa avultuada. Perdoado pelo rei, retirou-se para as suas terras, dedicando-se inteiramente aos estudos. Faleceu em 1626. Teve uma inteligência muito esclarecida, convencido da sua missão de cientista, segundo o espírito positivo e prático da mentalidade anglo-saxônia.

Nesta parte do plano Bacon adotava um estrutura em três partes: "Natureza externa"  cobrindo a astronomia, meteorologia, geografia, espécies minerais, vegetais, e animais), "O Homem" (cobrindo anatomia, fisiologia, estrutura, poder, e ação), e "Ação do homem sobre a natureza " (incluindo medicina, química, as artes visuais, os sentidos, as emoções, as faculdades intelectuais, arquitetura, transporte, imprensa, agricultura, navegação, aritmética, e numerosos outros assuntos).
Em quarto lugar tem a "escada do intelecto" consistindo de exemplos cuidadosamente trabalhados da aplicação do método, sendo o mais impressivo o relato, no Novum Organum, do como suas tabelas indutivas mostram o calor ser um tipo de movimento de partículas.  

O pensamento filosófico de Bacon representa a tentativa de realizar aquilo que ele mesmo chamou de Instauratio magna (Grande restauração). A realização desse plano compreendia uma série de tratados que, partindo do estado em que se encontrava a ciência da época, acabaria por apresentar um novo método que deveria superar e substituir o de Aristóteles. Esses tratados deveriam apresentar um modo específico de investigação dos fatos, passando, a seguir, para a investigação da leis e retornavam para o mundo dos fatos para nele promover as ações que se revelassem possíveis. Bacon desejava uma reforma completa do conhecimento. A tarefa era, obviamente, gigantesca e o filósofo produziu apenas certo número de tratados. Não obstante, a primeira parte da Instauratio foi concluída.
A reforma do conhecimento é justificada em uma crítica à filosofia anterior (especialmente a Escolástica), considerada estéril por não apresentar nenhum resultado prático para a vida do homem. O conhecimento científico, para Bacon, tam por finalidade servir o homem e dar-lhe poder sobre a natureza. A ciência antiga, de origem aristotélica, também é criticada. Demócrito, contudo, era tido em alta conta por Bacon, que o considerava mais importante que Platão e Aristóteles.
A ciência deve restabelecer o imperium hominis (império do homem) sobre as coisas. A filosofia verdadeira não é apenas a ciência das coisas divinas e humanas. É também algo prático. Saber é poder. A mentalidade científica somente será alcançada através do expurgo de uma série de preconceitos por Bacon chamados ídolos. O conhecimento, o saber, é apenas um meio vigoroso e seguro de conquistar poder sobre a natureza.

Classificação das ciências

Preliminarmente, Bacon propõe a classificação das ciências em três grupos:
a poesia ou ciência da imaginação;
história ou ciência da memória;
filosofia ou ciência da razão.
A história é subdividida em natural e civil e a filosofia é subdividida em filosofia da natureza e em antropologia.

Ídolos

No que se refere ao Novum Organum, Bacon preocupou-se inicialmente com a análise de falsas noções (ídolos) que se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens que dizem fazer ciência. É um dos aspectos mais fascinantes e de interesse permanente na filosofia de Bacon. Esses ídolos foram classificados em quatro grupos:
1) Idola tribus (ídolos da tribo). Ocorrem por conta das deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela facilidade com que generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os desfavoráveis. São assim chamados porque são inerentes à natureza humana, à própria tribo ou raça humana. Astrologia, alquimia e cabala são exemplos dessas generalizações;
2) Idola specus (ídolos da caverna). Resultam da própria educação e da pressão dos costumes. Há, obviamente, uma alusão à alegoria da caverna platônica;
3) Idola fori (ídolos da vida pública). Estes estão vinculados à linguagem e decorrem do mau uso que dela fazemos;
4) Idola theatri (ídolos da autoridade). Decorrem da irrestrita subordinação à autoridade (por exemplo, a de Aristóteles). Os sistemas filosóficos careciam de demonstração, eram pura invenção como as peças de teatro.

O método

O objetivo do método baconiano é constituir uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais. Para Bacon, a descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico mas sim da observação e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento verdadeiro é resultado da concordância e da variação dos fenômenos que, se devidamente observados, apresentam a causa real dos fenômenos.
Para isso, no entanto, deve-se descrever de modo pormenorizado os fatos observados para, em seguida, confrontá-los com três tábuas que disciplinarão o método indutivo: a tábua da presença (responsável pelo registro de presenças das formas que se investigam), a tábua de ausência (responsável pelo controle de situações nas quais as formas pesquisadas se revelam ausentes) e a tábua da comparação responsável pelo registro das variações que as referidas formas manifestam). Com isso, seria possível eliminar causas que não se relacionam com com o efeito ou com o fenômeno analisado e, pelo registro da presença e variações seria possível chegar à verdadeira causa de um fenômeno. Estas tábuas não apenas dão suporte ao método indutivo mas fazem uma distinção entre a experiência vaga (noções recolhidas ao acaso) e a experiência escriturada (observação metódica e passível de verificações empíricas). Mesmo que a indução fosse conhecida dos antigos, é com Bacon que ela ganha amplitude e eficácia.
O método, no entanto, possui pelo menos duas falhas importantes. Em primeiro lugar, Bacon não dá muito valor à hipótese. De acordo com seu método, a simples disposição ordenada dos dados nas três tábuas acabaria por levar à hipótese correta. Isso, contudo, raramente ocorre. Em segundo lugar, Bacon não imaginou a importância da dedução matemática para o avanço das ciências. A origem para isso, talvez, foi o fato de ter estudado em Cambridge, reduto platônico que costumava ligar a matemática ao uso que dela fizera Platão.

Obras

A produção intelectual de Bacon foi vasta e variada. De modo geral, pode ser dividida em três partes: jurídica, literária e filosófica.

Obras jurídicas

Figuram entre seus principais trabalhos jurídicos os seguintes títulos: The Elements of the common lawes of England (Elementos das leis comuns da Inglaterra), Cases of treason (Casos de traição), The Learned reading of Sir Francis Bacon upon the statute os uses (Douta leitura do código de costumes por Sir Francis Bacon).

Obras literárias

Sua obra literária fundamental são os Essays (Ensaios), publicados em 1597, 1612 e 1625 e cujo tema é familiar e prático. Alguns de seus ditos tornaram-se proverbiais e os Essays tornaram-se tão famosos quanto os de Montaigne. Outros opúsculos, no âmbito literário: Colours of good and evil (Estandartes do bem e do mal), De sapientia veterum (Da sabedoria dos antigos). No âmbito histórico destaca-se History of Henry VII (História de Henrique VII) .

Obras filosóficas

As obras filosóficas mais importantes de Bacon são Instauratio magna (Grande restauração) e Novum organum. Nesta última, Bacon apresenta e descreve seu método para as ciências. Este novo método deverá substituir o Organon aristotélico.

Seus escritos no âmbito filosófico podem ser agrupados do seguinte modo:

1) Escritos que faziam parte da Instauratio magna e que foram ou superados ou postos de lado, como: De interpretatione naturae (Da interpretação da natureza), Inquisitio de motu (Pesquisas sobre o movimento), Historia naturalis (História natural), onde tenta aplicar seu método pela primeira vez;
2) Escritos relacionados com a Instauratio magna, mas não incluídos em seu plano original. O escrito mais importante é New Atlantis (Nova Atlântida), onde Bacon apresenta uma concepção do Estado ideal regulado por idéias de caráter científico. Além deste, destacam-se Cogitationes de natura rerum (Reflexões sobre a natureza das coisas) e De fluxu et refluxu (Das marés);
3) Instauratio magna, onde Bacon procura desenvolver o seu pensamento filosófico-científico e que consta de seis partes: (a) Partitiones scientiarum (Classificação das ciências), sistematização do conjunto do saber humano, de acordo com as faculdades que o produzem; (b) Novum organum sive Indicia de interpretatione naturae (Novo método ou Manifestações sobre a interpretação da natureza), exposição do método indutivo, trabalho esse que reformula e repete o Novum organum; (c) Phaenomena universi sive Historia naturalis et experimentalis ad condendam philosophiam (Fenômenos do universo ou História natural e experimental para a fundamentação da filosofia), versa sobre a coleta de dados empíricos; (d) Scala intellectus, sive Filum labyrinthi (Escala do entendimento ou O Fio do labirinto), contém exemplos de investigação conduzida de acordo com o novo método; (e) Prodromi sive Antecipationes philosophiae secundae (Introdução ou Antecipações à filosofia segunda), onde faz considerações à margem do novo método, visando mostrar o avanço por ele permitido; (f) Philosophia secunda, sive Scientia activa (Filosofia segunda ou Ciência ativa), seria o resultado final, oragnizado em um sistema de axiomas.

O Conhecimento em Si Mesmo é Poder

Esse pequeno aforismo aparece em Meditationes Sacrae (1597), um enigmático trabalho de Francis Bacon (1561-1626). A frase parece óbvia, especialmente em nossa era de informação. Porém, corremos o risco de entender mal o que Bacon está querendo dizer com "poder", que não é "vantagem pessoal ou política", mas "controle da natureza".

Algumas frases de F. Bacon:


- A consciência é a estrutura das virtudes.
- A verdade é filha do tempo, não da autoridade.
- Evitar superstições, é outra superstição.
- O falar incessantemente por hipérboles só se adapta bem ao amor.
- O homem deve criar as oportunidades, é não somente encontrá=las.
- Todas as cores concordam no escuro.
- É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade.
- Aquele que não consegue perdoar os outros, destroe a ponte por onde irá passar.
- O dinheiro é um bom criado, mas um mau senhor.
- Escolher o seu tempo, é ganhar tempo.
- As casas são construídas para que se viva nelas, não para olhá-las.
- A sabedoria dos crocodilos consiste em verter lágrimas quando querem devorar.
- O dinheiro é como o adubo, não é bom se não for distribuído.
- Aquele que tem mulher e filhos entregou reféns ao destino; é que eles são um obstáculo aos grandes empreendimentos, quer sejam virtuosos ou mal formados.
- Todo o acesso a uma alta função se serve de uma escada tortuosa..

- O processo criativo é um coquetel de instinto, habilidade, cultura e um certo estado febril. Não é como uma droga, é uma mistura de consciência e inconsciência, de medo e prazer, é um pouco como fazer amor; o ato físico do amor. 

- O tempo é o maior inovador.



 

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