O que faz este homem empurrando este enorme rodado pelas ruas? Chama-se Fabio Viale, é italiano, escultor, e na verdade aquilo que o vemos a empurrar não é um pneu de caminhão - antes fosse, pois seria bem mais leve! Trata-se de um dos seus trabalhos, denominado Opera Rotas, e tem como característica principal ser constituído inteiramente por mármore. Esta matéria-prima é, de resto, a única que o artista utiliza e com grande mestria técnica, diga-se, pois consegue servir-se dela para recriar objetos que são específicos de outros materiais, como é o caso de um pneu de borracha.
Fabio Viale pode considerar-se um dos herdeiros nos tempos modernos da tradição escultural italiana. Tal como ele, os grandes mestres do Renascimento e do Barroco, de Michellangelo a Bernini, elegeram o mármore como material de trabalho único e exclusivo e dele conseguiram tirar tudo o que queriam, fazendo-o parecer metal polido, cabelo ou ramos de árvores. E, nesta simulação de outros materiais, Viale é mestre, não tenhamos dúvidas, bem como na arte da ironia.
A ligação aos antigos mestres torna-se clara quando recria as suas obras ou parte delas: a Pietá do Vaticano ou bocados de membros de David, de Michellangelo, ou ainda a espantosa versão de Mona Lisa esculpida em bolas esferovite mas em mármore, é claro.
Bernini levou o trabalho do mármore além daquilo que parecia possível na sua época e deu-lhe formas que até então só eram conseguidas com metais e processos de fundição. Mais de 300 anos depois, com as modernas tecnologias, até onde vão os limites de um material e a sua capacidade de ilusão e utilização? A resposta a estas perguntas, que parecem ser o fulcro da atividade artística de Fabio Viale, está numa das suas obras mais emblemáticas, o Ahgalla I, um barco integralmente feito em mármore que, parafraseando outro italiano, "no entanto move-se".
O Escultor em ação: